quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O sequestro do embaixador americano – a luta armada contra a ditadura


Em 1969, o Brasil vivia sob forte ditadura militar desde o golpe de 1964. Um ano antes, o AI-5 restringiu muito as liberdades individuais no país. Os EUA apoiavam o governo autoritário brasileiro, assim como em outros países da América Latina. Em oposição a esta situação, se formaram diversos grupos de luta armada com tendência política marxista.
Estes movimentos guerrilheiros tiveram início em 1967 e acirraram suas ações após 68. Estas eram geralmente urbanas, com exceções como o Araguaia e a guerrilha de Lamarca. Na maioria das vezes, consistiam em desapropriações, ou seja, assaltos a bancos, com o objetivo de conseguir dinheiro para financiar a continuação da luta armada.
Foi nesse contexto que em 4 de setembro de 1969, dois desses grupos,o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e a ALN (Ação Libertadora Nacional) sequestraram o embaixador estadunidense no Brasil, Charles Elbrick. A data não foi escolhida à toa. Um dos objetivos era marcar o 7 de setembro, o “dia da pátria”, mostrar que havia algo de errado com o país.
O raptado tampouco foi escolhido à toa. Vivia-se em plena Guerra Fria e os EUA representavam o bloco capitalista, sendo a grande potência ocidental. Os guerrilheiros divulgaram um manifesto lido ao vivo no Jornal Nacional, exigindo a libertação de quinze companheiros, presos políticos, e denunciando o regime autoritário que prendia, torturava e matava.
Treze dos quinze presos soltos em troca de Elbrick. Entre eles, José Dirceu (o segundo de pé da esquerda para direita) e Flávio Tavares (o último agachado da esquerda para direita)
Os quinze prisioneiros foram soltos e postos em um avião em direção ao México. O embaixador foi libertado em 6 setembro. Os sequestradores foram presos pela ditadura e posteriormente trocados após o sequestro de um embaixador alemão. Entre eles estavam o deputado federal Fernando Gabeira e o jornalista e ex-ministro da comunicação social, Franklin Martins, que inclusive escreveu o manifesto.
Foto atual de Gabeira
O filme “O que é isso companheiro?” de Bruno Barreto, baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, narra essa história. No livro, Gabeira relata o rapto em apenas um capítulo, mas o filme é todo sobre a ação do sequestro. Porém, temos que estar atentos para algumas questões do filme. Talvez no intuito de colocar alguma dramaticidade na obra, ele mostra alguns guerrilheiros como extremistas, ou os “malvados” da história. O que não aparece no livro. O mesmo acontece nos órgãos de repressão, com torturadores com crises de consciências, como o “bom moço” da história.
A História, com “H” maiúsculo, não tem heróis ou vilões, mocinhos ou bandidos, não é um filme de faroeste. Existem sim vítimas e algozes, mas todos estes têm a sua ação e participação nos fatos. Entendo que isto possa ser um recurso do cinema, ou do roteiro para contar uma História.
Cartaz do filme
Mas qual será o sentido da leitura que o filme “O que é isso companheiro?” faz da História? Não será demonstrar que “olha só, do lado da guerrilha eles também eram maus. Eles eram terroristas”? E desse ponto para justificar a repressão, prisões, torturas e mortes pode ser um passo pequeno.
Não existe nenhum problema em se assistir a esse filme na busca de se entender o período. Porém temos que estar atentos para estes detalhes que podem passar em branco numa visão mais descompromissada.
Bibliografia:
FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992.

ROLLEMBERG, Denise. “Esquerdas revolucionárias e luta armada”, in Jorge Ferreira e Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano. O tempo da ditadura. Regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Vol. 4. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.

GABEIRA, Fernando. O que é isso companheiro? São Paulo, Companhia das Letras, 2010.

 O que é isso companheiro? Bruno Barreto. Colúmbia Pictures. Brasil, 1997. DVD. Colorido. 


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