sexta-feira, 22 de julho de 2011

O discurso de Spartacus

Cartaz de "Spartacus"






Entre 74 e 71 a.C. Roma enfrentou a maior revolta de escravos da República, liderada pelo gladiador Spartacus, ou Espártco. Em 1960, Kirk Douglas estrelou filme homônimo do líder da rebelião. Dirigido por Stanley Kubrick, tem como um dos seus momentos mais importantes um discurso de Spartacus para a massa de escravos rebeldes antes da uma importante batalha: 
“Não temos outra escolha a não ser lutar contra Roma e terminar esta guerra da única maneira possível, libertando todos os escravos da Itália. Prefiro estar aqui, um homem livre entre irmãos encarando uma longa jornada e uma batalha difícil que ser o homem mais rico de Roma gordo da comida pela qual não trabalhei e rodeado de escravos. Talvez não haja mais paz neste mundo para nós, nem para ninguém. Não sei. Só sei que enquanto vivermos devemos ser fiéis com nós mesmos. Sei que somos irmãos e que somos livres.” 
Contudo, esse belo discurso seria impossível de ser feito na Roma Antiga. As revoltas escravas não tinham nenhum objetivo de Revolução, ou mudanças na ordem social. Consistiam basicamente em lutas de escravos contra seus senhores e contra o Estado romano, que protegia estes últimos.
Roma sempre fez pouco caso dos escravos, que eram tratados com crueldade principalmente nas propriedades agrícolas. Estes eram facilmente obtidos ou substituídos, devido às guerras e ao comércio de escravos. Na maioria das vezes, eram os trabalhadores dos meios rurais que se rebelavam, ou então, grupos isolados com fácil acesso a armas como os gladiadores, homens treinados para lutar até morte na arena, caso de Spartacus. Escravos do meio urbano não costumavam tomar parte dessas rebeliões.
Spartacus era um gladiador trácio, que iniciou uma conspiração de gladiadores em Cápua. Como eram homens armados e com fácil comunicação, não tiveram grandes dificuldades para dar início a revolta. Cerca de 120 mil homens teriam aderido ao movimento e após vários combates, foram necessárias oito legiões para derrotar os escravos revoltosos. Como principal conseqüência da rebelião de Spartacus, ocorre em Roma uma sensível e lenta melhora na vida dos escravos, para evitar novos episódios como esse.
No caso do filme Spartacus, temos que analisar o que o historiador francês Marc Ferro chama de leitura histórica do cinema, baseado na sociedade em que a obra foi produzida. O que acontecia no mundo e nos EUA (país de produção do filme) em 1960? Lutas pelas independências dos antigos impérios europeus, luta pelo fim da segregação racial norte-americana, os EUA recém-saídos de uma ferrenha perseguição aos comunistas, o macarthismo. Todos esses elementos inspiravam um discurso pela liberdade, pela paz, contra a exploração. O discurso do Spartacus de Kirk Douglas e Stanley Kubrick foi dado para um público dos EUA nos anos 60 e não para escravos rebeldes na Roma Antiga. Independente disso é um excelente filme para ser assistido e passado em sala de aula.

Bibliografia:
ALFÖDY, Geza. A História Social de Roma. Lisboa, Editorial Presença, 1989.
FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992. 
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991.São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
SPARTACUS. Direção de Stanley Kubrick. Universal Studios. EUA: 1960.

 

Assista ao trailler de Spartacus:



Nenhum comentário: