A guerra foi uma constante da França no período pós-Revolução de 1789. Mais do que uma vontade, foi uma necessidade. Os países vizinhos não viam a hora de acabar com aquela revolta que ameaçava os seus sistemas de governo. Pois a Revolução vinha justamente contra o Antigo Regime centrado em um governo Absolutista, uma sociedade estamental que privilegiava os nobres e num capitalismo comercial monopolista. A Revolução Francesa pôs tudo isso abaixo ao instaurar uma República, criar uma sociedade onde todos tinham os mesmos direitos e ao propor um livre comércio.
Napoleão Bonaparte veio corroborar todas as conquistas da principal classe revolucionária: a burguesia. Foi levado ao poder em 1799 por suas habilidades militares, já demonstradas desde o início da oposição europeia à Revolução. Em 1804 se proclamou Imperador. Conquistou boa parte da Europa e do norte da África, levando os ideais revolucionários para estas terras. Ou melhor: difundindo as vitórias que a burguesia obteve na França para o resto da Europa, ainda que para isso tomasse medidas conservadoras e autoritárias. Se por um lado, os sucessos militares e medidas de Napoleão contribuíram para fazer com que o Antigo Regime fosse derrotado, por outro eliminaram o sonho de “liberdade, igualdade e fraternidade” do início da Revolução Francesa, excluindo os jacobinos de vez do processo político.
A França tinha após a Revolução diversos rivais. E derrotou a maioria deles em curto tempo. O exército napoleônico venceu a Prússia, a Áustria e inclusive a Rússia, além de ter ocupado a Espanha, a Itália, a Renânia, a Savoia, a Suíça, o Egito, Malta e a Síria. Isso tudo em menos de dez anos. Ocorre que Napoleão não conseguiu vencer a Inglaterra em batalha. Por isso, tentou impor o bloqueio continental, que impedia o comércio da Europa com os ingleses, o que minaria o sistema econômico britânico. Como o czar russo se negou a aceitar o bloqueio, Napoleão se viu obrigado atacar o seu país em 1812. Ocorre que a Rússia era muito diferente dos países que o exército francês costumava invadir. Em geral, estas áreas eram densamente povoadas e ricas o suficiente para o abastecimento de suas tropas. A Rússia, ao contrário, tinha espaços vastos, vazios e pobres.
Bonaparte chegou até Moscou no mês de setembro de 1812, mas a encontrou incendiada pela sua própria população. Viu-se obrigado a recuar, mas na volta ainda enfrentou o inverno russo. Esta estação é longa, com muita neve e muito frio. Em Moscou, por exemplo, chega a fazer -40o. Contudo não foi apenas o inverno que derrotou Napoleão, mas também a falta de suprimentos para suas tropas devido à escassez de alimentos na Rússia. De 610 mil homens que entraram no território russo, apenas cerca de 100 mil voltaram.
Napoleão retorna da Rússia no rigor do inverno |
Debilitado, com suas tropas arrasadas, Napoleão foi presa fácil para seus antigos inimigos e para suas antigas vítimas. Áustria, Rússia, Prússia e Inglaterra chegaram a atacar a França e vencer o exército napoleônico em abril de 1814. O líder francês ainda ensaiou uma volta no ano seguinte, mas foi liquidado de vez em Waterloo.
Liev Tolstoi ambienta o seu Guerra e Paz na Rússia durante a invasão de Napoleão. Quem encarar os quatro volumosos livros que compõem a obra poderá ter um bom panorama da vida dos russos no início do século XIX.
Outro importante trabalho artístico é o concerto musical de Piotr Tchaikovsky, Abertura 1812. Nela, seu autor conta justamente o fracasso das tropas francesas nesse ano. Durante a música é possível escutar acordes do hino francês, A Marselhesa. E isso tem uma razão simples: mais do que somente o hino de um país, esta era a canção de uma revolução burguesa, cujos ideais, Napoleão tratou de difundir pela Europa até ser derrotado na Rússia. Para os apressados e para quem não admira música erudita, vale a pena escutar ao menos, os minutos finais, que contam com os tiros de canhões, remetendo à guerra.
Bibliografia
HOBSBAWM, Eric. Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.
TOLSTOI, Liev. Guerra e Paz. Porto Alegre, L&PM, 2007. 4 volumes.
O final de "Abertura 1812" de Tchaikovsky, pela Orquestra Filarmônica de Israel.
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