Pôster do filme "Lincoln" |
No
último post, tratei aqui do filme Django Livre. Agora é a hora de abordar Lincoln.
Lincoln traz uma abordagem bem diferente.
Passa-se durante a Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana. Já tratei do assunto
aqui (http://historiaeavida.blogspot.com.br/2012/04/os-bons-os-maus-e-guerra-de-secessao.html), mas vou tangenciá-lo mais uma vez,
dado a importância da guerra para o tema em discussão nesse post.
Lincoln, do diretor Steven Spielberg, com
Daniel Day-Lewis como protagonista, aborda e esforço do presidente
norte-americano Abraham Lincoln para a aprovação da abolição da escravidão no
Congresso dos Estados Unidos. Trata-se de mais um drama histórico de Spielberg,
que já tinha visitado o tema no interessante Amistad. Mesclando fatos históricos com situações pessoais, Lincoln trata do líder norte-americano
como um herói na disputa dos direitos dos negros nos EUA.
O presidente Abraham Lincoln em 1863: dono de um discurso ambíguo sobre os negros, acabou sendo o presidente responsável pela abolição da escravidão |
Até
1859, Abraham Lincoln não tinha nenhuma quase experiência política e seu
partido, o Republicano fora recém-formado. Como esse indivíduo se elegeu
presidente então? Da independência ao ano de 1856, os EUA contavam com dois
principais partidos, os democratas e os wighs.
Os primeiros eram compostos de pequenos comerciantes do norte e pequenos
fazendeiros do sul, favoráveis a intervenção do Estado na economia. Os demais,
grandes comerciantes do norte e grandes fazendeiros do sul, defensores do liberalismo
econômico. Como os democratas venceram várias eleições no século XIX, os wighs acabaram dissolvendo-se em várias
cisões partidárias.
Parecia
que os democratas controlariam a política do país, mas em 1856 surgem os
republicanos com uma plataforma abolicionista. Disputou a eleição de 1860 com
Abraham Lincoln contra o democrata Stephen Douglas. Douglas defendia um sul
escravista junto de um norte com mão de obra assalariada. Lincoln entendia que
a abolição deveria ser para toda nação, porque segundo suas palavras, uma “casa
dividida contra si mesmo não pode permanecer”.
O país não aguentaria uma região livre, outra escrava.
Contudo,
a posição de Lincoln sobre os negros era bastante dúbia. Ainda que tivesse um
discurso antiescravsita, isso não significa que fosse favorável a usar a força
contra os estados do Sul para que houvesse a abolição. Ao mesmo tempo, tinha um
discurso racista, defendendo os brancos como superiores. Por isso, era visto
por muita gente no norte como conservador. Mesmo assim, foi eleito praticamente
só com votos dessa região.
O
discurso “bonitinho” de Lincoln no filme visando à igualdade não parece
combinar com a sua ideia na época. Spielberg comete um pecado em História: o
anacronismo, colocar elementos fora de seu tempo. Claro que isso deve entendido
como um recurso de cinema, fruto da nossa época e da construção de heróis nacionais.
Vivemos no século XXI um importante momento na eterna luta pela igualdade entre
os homens. Ao mesmo tempo nos EUA, um presidente negro, o que não é pouco. Creio
que o diretor buscou inserir questões da nossa sociedade em Lincoln. Contudo, a ideia mais em voga
na época era a do discurso do senador democrata que “o Congresso não pode tornar
igual o que Deus fez desigual”.
Em
certo momento do filme, Lincoln considera que se vencesse a guerra contra os
Confederados, tudo que estes possuíssem seria da União, assim como os escravos.
Ou seja, enfatizando a situação do escravo como mercadoria. Já em 1862, Lincoln
realizou a Proclamação da Emancipação, que declarava livres os escravos do sul,
mas isso não teve solução prática, pois foi obviamente ignorada. Como já falei
no blog na postagem acima citada, a razão da Guerra Civil não foi apenas a
abolição, mas também formas de administrar o país, como uma maior ou menor
abertura ao mercado estrangeiro. Com a Proclamação da Emancipação que o tema
dos escravos tornou-se central para o conflito.
Outra
medida da Proclamação da Escravidão foi a entrada de ex-escravos no Exército da
União. Estima-se que cerca de 280 mil negros fizeram parte das forças armadas
nortistas. Claro que os brancos eram privilegiados. A cena em que dois soldados
negros é muito
tocante, mas eles serviam por mais tempo, não chegavam a cargos
de oficiais e recebiam um soldo menor.
Batalhão da União composto por negros na Guerra Civil Americana: note como os seus comandantes são brancos |
Mas
o filme Lincoln concentra-se
principalmente em cima da aprovação da Décima Terceira Emenda Constitucional
que acabava com o trabalho escravo nos EUA. Uma curta e necessária explicação:
a Constituição americana foi feita em 1787 com dez artigos, ou emendas. As
demais foram sendo acrescentadas com o tempo.
A
Guerra de Secessão vinha chegando ao fim e o Sul tinha praticamente capitulado.
Lincoln via a necessidade de reunificar o país. Como, segundo ele, a escravidão
manteria a “casa dividida”, pensava que era hora de terminar com essa prática.
Esta foi aprovada sob polêmica e debates em um Congresso formado por senadores
do Norte, de Estados que estavam com a União, já que os sulistas formavam os
Estados Confederados da América.
A
Décima Terceira Emenda foi aprovada em 8 de abril de 1865 pelos senadores. Poucos
dias depois, Abraham Lincoln foi baleado pelo sulista John Wilkes Booth e veio
a falecer. Os rebeldes capitularam logo em seguida. Junto à Décima Terceira
somaram-se a Décima Quarta e a Décima Quinta Ementa buscando uma inserção de
ex-escravos na sociedade americana. A Décima Quarta, de 1866, estendia a cidadania
para todos aqueles nascidos nos EUA. A Décima Quinta, de 1870, garantia que
todos pudessem votar. Todos os homens, diga-se de passagem, porque o sufrágio feminino
foi bem posterior.
Finda
a guerra, morto Lincoln e abolida a escravidão, o novo presidente, Andrew
Johnson tinha a tarefa de reconstruir o país. No sul, muitos ex-escravos se
negavam a trabalhar para os antigos senhores. Dessa maneira, estabeleceu-se uma
forma de contrato no qual os empregados foram muito prejudicados. Até havia um
salário fixo, ou uma porcentagem da sua produção. Mas os trabalhadores
contraíram tantas dívidas com os donos das terras, que viviam praticamente numa
servidão. Afinal, o comércio e as vendas eram propriedade dos senhores. Os
negros saíram do trabalho escravo para serem muito mal remunerados com péssimas
condições de trabalho.
Como
nos EUA os estados têm autonomia, o presidente Johnson aceitou leis que limitavam
a liberdade dos negros, chamadas de “Black Codes” (Códigos
Para
piorar, em 1875 surgiram as leis “Jim Crow”. Eram lei que proíbam os negros de
frequentar
os mesmos lugares que os brancos. Ou seja, restringiam espaços para os negros. A
primeira surgiu no Tennesse, para em seguida se espalharem pelo sul do país. Em
1883, a Suprema Corte aprovou a existência dessas leis. A região meridional dos
EUA caminhava para um pesado segregacionismo racial. As leis que separavam e
discriminavam os negros só foram cair nos anos 50 e 60 do século XX, por pressão
da sociedade.
Leis racistas como as "Jim Crow", proíbiam os negros de frequentar os mesmo lugares que brancos. Após o fim da escravidão, o preconceito racial não saiu das entranhas do sul dos EUA, pelo contrário |
O
personagem do excelente ator Tommy Lee Jones tem um interessante papel no
filme. Um republicano que se colocava como opositor da abolição, mas que se vê
forçado a articular a aprovação da emenda. No final, descobre-se que vivia
junto de uma mulher afro-descendente. Na realidade, esta mulher não poderia ser
sua escrava, pois no norte não existia mais essa forma de trabalho. Mas, ao
mesmo tempo em que era companheira, era sua empregada doméstica, funcionária do
lar. Uma forma de alegoria sobre a situação dos negros nos Estados Unidos, que
sempre conviveram na sociedade junto dos brancos, mas numa condição diferente e
inferior. Foi preciso muita luta para que fosse conseguida a igualdade e, ainda
assim, o preconceito racial é uma marca da sociedade estado-unidense.
A luta dos movimentos negros nas décadas de 1950 e 1960 acabaram com as famigeradas leis racistas nos EUA |
Bibliografia:
EISENBERG,
Peter. A Guerra Civil Americana. São
Paulo, editora brasiliense, 1985.
KARNAL,
Leandro; Fernandes, Luiz Estevam; Morais, Marcus Vinicius de; Purdy, Sean. História dos Estados Unidos: das Origens ao
Século XXI. São Paulo, Editora
Contexto, 2007.
JUNQUEIRA,
Mary A. Estados Unidos – A consolidação da Nação. São Paulo, Editora Contexto,
2001.
VEJA AQUI O TRAILER DO FILME LINCOLN
5 comentários:
você utiliza vários trechos do livro do Karnal, sem fazer citação. isso é plágio, meu amigo!
A bibliografia está disponível logo abaixo do texto.
A bibliografia está disponível logo abaixo do texto.
Adorei !
Muito elucidativo seu texto!
Muito Obrigada
Qual Era a Visão De Abraham Lincoln Em Relação a Escravidão?
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