sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sobre a Revolução de 23 e fim das disputas coronelistas no RS: “Foi findar com as luta armada /O doutor Getulio Vargas”


É do senso comum afirmar que as coisas no Rio Grande do Sul sempre são dicotômicas, tal qual o Grenal. Talvez seja por que a maior parte da República Velha no estado foi marcada pela disputa entre republicanos e federalistas vindas desde 1893.
Forças borgistas em Passo Fundo.
Crédito da imagem: O tempo e o Rio Grande nas imagens do
Arquivo Histórico do RS.org. Rejane Penna, Porto Alegre, IEL,
Arquivo Histórico do RS, 2011.
Durante anos o republicano Borges de Medeiros se reelegeu ao cargo de presidente do estado (naquele tempo, os governadores eram chamados assim), em eleições onde a fraude parecia ser regra. Até que em 1922, Assis Brasil candidatou-se pela oposição, sendo derrotado. Os anos vinte, contudo, foram marcados por uma crise da pecuária gaúcha. E a maioria dos pecuaristas era composta pelos federalistas.
Esses criadores de gado exigiam que Borges de Medeiros os socorresse economicamente, o que não ocorreu, pois o presidente do estado tinha por princípio uma política econômica voltada para modernização do setor de transportes e industrial.
Tal situação gerou um descontentamento, que aliada às fraudes eleitorais de 1922, gerou o episódio conhecido como Revolução de 1923. De um lado estavam os pecuaristas, juntos de outras parcelas da elite, sendo um confronto entre os “coronéis” do Rio Grande do Sul da época. Assim, os federalistas tinham o apoio dos “democratas” e de “dissidentes republicanos”, lutando sob o nome de “Aliança Libertadora”.
Grupo do apoiadores de Borges de Medeiros.
Crédito da imagem: O tempo e o Rio Grande nas imagens do
Arquivo Histórico do RS.org. Rejane Penna, Porto Alegre, IEL,
Arquivo Histórico do RS, 2011.
O início dos embates deu-se na região noroeste do estado, espalhando-se na direção de Passo Fundo, onde tomou corpo e chegou ao resto do Rio Grande do Sul. A tática adotada pelos opositores de Borges foi sobretudo a de guerrilha e pequenos combates, a fim de minar as forças ligadas ao presidente do estado, que eram mais numerosas. O conflito durou praticamente todo o ano 1923, impossibilitando inclusive, a realização do Campeonato Gaúcho de Futebol.
Os rebeldes se opunham também ao autoritarismo de Borges de Medeiros, herança da sua política positivista, que centralizava o poder nas mãos do Executivo. Queriam uma nova constituição para o Rio Grande do Sul. Acreditavam que teriam o auxílio militar do governo brasileiro, já que Borges de Medeiros não apoiou a candidatura do então presidente, Artur Bernardes. Entretanto, este se limitou a enviar um mediador ao sul, o general Setembrino de Carvalho.
Borges de Medeiros assinando a paz em 1923
no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho
Crédito da imagem: O tempo e o Rio Grande nas imagens do
Arquivo Histórico do RS.org. Rejane Penna, Porto Alegre, IEL,
Arquivo Histórico do RS, 2011.
A querela só foi se resolver em dezembro de 1923, quando foi assinado o Pacto de Pedras Altas. Nele ficou estabelecido que a Constituição seria revisada e que Borges de Medeiros, após se reeleger pela quinta vez, não seria mais candidato. Ou seja, em 1928 o Rio Grande do Sul haveria de ter outro presidente do estado.
E esse outro foi Getúlio Vargas. Antigo correligionário de Borges de Medeiros, o cidadão de São Borja teve habilidade suficiente para unir as elites oligárquicas sul-rio-grandenses em torno de si. Dessa maneira, só havia ele de candidato, formando a Frente Única Rio-grandense, que abrigava tanto o Partido Republicano Rio-grandense como o Partido Libertador, fruto da Aliança Libertadora de 1923. Mesmo esses antigos adversários de Borges pareciam confiar em Vargas, devido ao que alguns chamam de “espírito conciliador” deste.
Eleito em 1928, ficou apenas dois anos no cargo. Nesse governo, além de acabar com as disputas coronelistas, Vargas atendeu as demandas dos pecuaristas e pagou as dívidas do estado. Além disso, criou um banco estatal, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, ou BERGS, futuro Banrisul.
Dali, Vargas saiu em 1930 para concorrer à presidência da República. Derrotado nas eleições derrubou o então presidente Washington Luís e tomou seu lugar. Permaneceu no cargo até 1945. Impôs sobre o país uma violenta ditadura, com simpatia pelo fascismo, ainda que o Brasil tenha ingressado da Segunda Guerra junto dos aliados.
Getúlio Vargas em 1930
já como presidente
da República
Sobre as diversas lutas estabelecidas no estado do Rio Grande do Sul durante a República velha, o grande compositor, gaúcho de Porto Alegre, nascido no bairro Passo da Areia, Gildo de Freitas, cantou assim: Esta faca prateada/ Que hoje eu mostro pra vocês/ Pois esta em 93/ Naqueles tempos passados/ Quando branco colorado / Pica pau com Maragato/ Com esta faca de prata/ Muitos foram degolados. Os maragatos eram os federalistas, opositores de Borges e os pica-paus, os republicanos. Ainda que em 1893, o presidente da província fosse Julio de Castilhos, a Revolução de 1923 tem as mesmas características da anterior: uma luta entre as oligarquias locais pelo poder.
E o mesma música completa assim a história da faca: Mas depois surgiu um homem
Que ganhou as eleições/ Findo com as revoluções / E deu estudo pra infância/ Coisa de muita importância/ Foi findar com as luta armada/ O doutor Getulio Vargas/ Que acabou com a ignorância
. Aqui percebemos que Gildo elogia a figura de Vargas, porque este uniu as elites gaúchas através de uma política de conciliação, acabando com os conflitos internos. Destaca-se que Gildo de Freitas era notadamente brizolista. E Leonel Brizola entre os anos 50 e 60 era membro do Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, fundado por Getúlio Vargas em 1945, e pelo qual voltou ao cargo de presidente da República, democraticamente eleito, em 1954. Ouça a música "Faca Prateada":

A maioria das imagens desta postagem são do livro “O tempo e o Rio Grande nas imagens do Arquivo Histórico do RS”. Se for utilizá-las, é favor dar o devido crédito à obra. Quem se interessar, pode pesquisar por esta e outras imagens no Arquivo Histórico do RS, no prédio do Memorial do RS,  em Porto Alegre, na Praça da Alfândega, ao lado do MARGS.
Bibliografia:
KÜHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Leitura XXI, 2004.        
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990.

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