quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Robin Hood e a monarquia medieval inglesa


Imagem de Robin Hood
do século XVII
A figura de Robin Hood é bastante conhecida: a história do aristocrata que rouba dos ricos para repassar aos pobres já foi contada e recontada por diversas canções na Idade Média e por Hollywood no século XX. A lenda do nobre ladrão tem paralelo em diversas outras culturas e sociedades, buscando sempre ajudar aos mais necessitados. Isso não faz dele um revolucionário, mas em teoria alguém que busca restabelecer a justiça.
Por estas palavras, entenda-se manter os velhos costumes. E na Inglaterra do século XIII, os velhos costumes significam tanto uma monarquia forte como uma nobreza não muito poderosa. Foi justamente o período em que se passa a lenda de Robin Hood: o final do século XII e início do XIII,
A centralização do poder nas mãos dos reis na Inglaterra foi cedo. A invasão normanda em 1066 possibilitou esse fato político. Assim, foi criado o cargo dos sheriffs, funcionários reais, que presidiam os tribunais dos condados,que correspondiam às divisões do reino.
O grande vilão das histórias de Robin Hood, é, não por acaso, o sheriff de Nottingham, local onde a história se passa. Segunda esta lenda, a autoridade estaria abusando de seu poder junto aos camponeses locais. Além disso, Robin Hood lutaria contra o rei João I, irmão de Ricardo I, que havia partido para a Terceira Cruzada entre 1189 e 1192.
Conforme a lenda, Robin Hood lutou pelo o que seria justo. Segundo este ponto de vista, o justo seria o poder voltar para Ricardo I e os excessos do o sheriff de Nottingham terminarem. A bem da verdade, Robin Hood não estaria defendendo somente os mais pobres, mas também uma nobreza que estava bastante alijada do poder.
Tanto é que em 1215, o rei João I foi obrigado a assinar a Carta Magna, contrato que limitava os poderes monárquicos. Assim foram criados os Parlamentos e o governo inglês passou a ser controlado tanto pela Coroa, como pela nobreza, como pela burguesia comercial que vinha surgindo.
Percebe-se que a Inglaterra já vinha em crise política desde que Ricardo I partira para as Cruzadas. A assinatura da Carta Magna e a criação dos Parlamentos ajudaram a por fim nessa crise, mas criaram um absolutismo fraco durante o período medieval.
Quanto a Robin Hood, se ele existiu mesmo, é algo que não vem ao caso. O importante é perceber sua figura como um ladrão herói. Sim, porque em princípio, ele lutava pelo que seria justo, pelos mais necessitados, mas, sobretudo, para evitar o abuso ou o excesso do poder tanto do sheriff de Nottingham, como do rei João I. Assim, Robin Hood não é um simples bandido. Ele é bom, pois dá aos pobres, mas também por ter uma origem nobre, por fazer tudo isso por um ideal. Ou seja, seus atos como bandidos só são válidos e justificáveis, pois ele é um nobre.
Não deixa de ser curioso que o herói de um período anterior a assinatura da Carta Magna seja um nobre, justamente a ordem social que se favoreceu com este documento.
Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro, Editora Forense-Universitária, 1975.
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru, Edusc, 2005.
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo, Ed. Brasiliense,1985.

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