quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os 18 do Forte de Copacabana



Foto atual do Forte
Por todo o Brasil existem clubes de futebol com uma torcida pequena, mas bastante aguerrida. Um bom exemplo disso é a do Cruzeiro de Porto Alegre, que foi apelidada de 18 do Forte. De onde veio esse apelido? Suas origens remontam ao período conhecido como República Velha.
Quando estudamos a República Velha, sobretudo os anos 20 verificamos a existência de um fenômeno político conhecido como Tenentismo. No que ele consistiu? O tenentismo não chegou a ser uma ideologia, ficando mais no plano de um movimento contra a forma como as oligarquias controlavam o país.  É importante lembrar que, quando falamos em República Velha, falamos do poder nas mãos de poucas famílias ricas, sobretudo dos estados de São Paulo e Minas Gerais, e de eleições fraudulentas. Ainda estamos falando de um período no qual o café se destacou como principal produto do Brasil. Engraçado como o próprio termo que se refere ao período já é pejorativo. Claro, pois foi criado num período posterior, no qual se pretendia depreciar o que passou.
Sendo assim, os tenentistas diziam pretender moralizar a política nacional, ou ainda, salvar as instituições republicanas. Mas quem eram os seus representantes? A resposta não é muito difícil: principalmente os tenentes, oficiais medianos do Exército, geralmente jovens assim como alguns capitães.  A maioria deles era oriunda da classe média.
Epitácio Pessoa
A próxima questão: é como eclodiu este movimento? Tudo começou no famoso ano de 1922. Recordem-se que tivemos então a Semana da Arte Moderna e a fundação do PCB. No mesmo ano, houve eleições para presidência da República. O então presidente, Epitácio Pessoa indicou Artur Bernardes para ser seu sucessor, seguindo a política “café-com-leite” de uma alternância entre mineiros e paulistas no cargo. Contudo, as oligarquias dissidentes, lideradas pelo Rio Grande do Sul lançaram a candidatura de Nilo Peçanha.
Artur Bernardes
A campanha contra Artur Bernardes foi muito violenta. Entre os fatos nela ocorridos, houve a divulgação de duas supostas cartas suas contra o Exército, que depois foram comprovadas falsas. Em 1922, ocorreu o fechamento do Clube Militar, por este ter protestado contra o uso de tropas do Exército numa questão da política local de Pernambuco.
O movimento tenentista teve seu início justamente com o episódio dos 18 do Forte, em cinco de julho de 1922, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, então capital federal. Os militares dessa guarnição se rebelaram e dispararam seus canhões contra alvos estratégicos. As forças do governo contra-atacaram, mas os amotinados diziam que só reconheceriam as ordens no marechal Hermes da Fonseca, ex-presidente e pai do Capitão Euclides Hermes da Fonseca, uma das lideranças no forte.
No dia seguinte, dois navios de guerra se posicionaram em frente ao Forte de Copacabana. Acuados por forças de terra e mar, a maioria dos rebeldes desistiu e se rendeu. Contudo, permaneceram ainda 17 homens, sob o comando dos tenentes Siqueira Campos e Newton Prado. Entre eles estava Eduardo Gomes, que viria a ser candidato à presidência da República em 1945 e 1950 pela UDN, derrotado em ambas as eleições. A estes se uniu o civil Otávio Correa.
Os revoltosos então partiram para um dos episódios mais heróicos do movimento tenentista: saíram a pé caminhando pela Avenida Atlântica na direção das tropas legalistas, na famosa "Marcha dos Dezoito do Forte". Após um tiroteio e um combate de arma branca, os dezoito foram evidentemente derrotados. Dois tenentes foram mortos: Newton Prado e Mário Carpenter, que acabaram sendo tranformados em mártires do movimento.
Alguns dos 18 revoltosos do Forte de Copacabana
marchando nas rua da  então capital

Este fato acabou repercutindo nacionalmente e ajudou na propagação do movimento tenentista. A insatisfação com o governo de Epitácio Pessoa cresceu, o mesmo se verificou durante a presidência de Artur Bernardes. Contudo, em resposta, as oligarquias se uniram novamente e ficaram mais fortalecidas. Esse esquema só viria se romper na eleição de 1929, que culminou na Revolução de 30, da qual os tenentistas fizeram parte. Tanto que os governadores (na época chamados de presidentes de estado) foram substituídos pela figura do tenente-interventor. Mais tarde, os antigos tenentistas continuaram participando da História política do país, inclusive no golpe de 1964.
No meu tempo de estudante (não que eu não estude mais, digo estudante secundarista – atual Ensino Médio), achava este o episódio mais curioso da História da República, ou melhor, com o nome mais curioso. Nome melhor que esse, só mesmo “Noite das Garrafadas”, mas aí estamos falando de Império e já é outro assunto.
Bibliografia
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins. “Tenentismo e crises políticas  na Primeira República”. In: FERREIRA, Jorge. e DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano. Vol.1 O tempo do liberalismo excludente. Da proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.
SODRÉ, Nelson Werneck. O tenentismo. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985.

Nenhum comentário: