quarta-feira, 16 de novembro de 2011

300

“Nossas flechas vão eclipsar o Sol!”. “Então lutaremos à sombra”. Este diálogo entre um persa e um espartano demonstra a diferença numérica da batalha em Termópilas, na Grécia no ano de 480 a.C.
A história é bem conhecida: o rei de Esparta, Leônidas, partiu com apenas 300 homens para enfrentar o numeroso e bem armado exército persa do rei Xerxes, que pretendia conquistar a Grécia. O principal relato do confronto é o de Heródoto, em seu livro Histórias, no qual relata as Guerras Médicas ou Persas.
Busto de Heródoto
Segundo Heródoto, os persas eram ao todo 2641610 soldados!  Os espartanos enviaram Leônidas com 300 homens, aparentemente, para encorajar os demais gregos. Ele seria o chefe das tropas gregas nas Termópilas, um desfiladeiro em posição estratégica, por possuir maior prestígio.
Ali, os gregos teriam derrotados os medos e os imortais. Os primeiros eram um povo aliado dos persas, os segundos, parte da guarda pessoal do rei Xerxes, a elite de seu exército. Entretanto, os espartanos foram vítimas de traições, por correligionários que entregaram aos persas o caminho para encurralá-los e atacá-los.
Leônidas teria despachado os aliados, gregos de outras cidades-estado, e permanecido no lugar com sua tropa. Na batalha, Leônidas foi morto, assim como os demais soldados. O corpo do rei de Esparta teria sido destroçado, tal era a rivalidade entre este e o rei persa.
Capa da obra de Frank Miller
Em 1998, Frank Miller passou esta história para os quadrinhos. Desde os anos setenta do século XX, os quadrinhos não são mais uma mídia somente para o público infantil ou adolescente. Adultos passaram a consumir histórias em quadrinhos e necessitavam de títulos que os agradassem. Frank Miller foi um dos artistas que desenhou e escreveu para este público. Com obras como “Batman: o cavaleiro das trevas”, “Sin City” e “Ronin”, Frank Miller é um dos maiores desenhistas e escritores de HQ da atualidade. Seu trabalho em “300 de Esparta” é primoroso, cuidadoso e muito bem elaborado. Em 2006, a obra foi passada para o cinema, pelas mãos do diretor Zack Snyder. Veja o trailler abaixo:

Relativamente fiel a Heródoto, o trabalho de Frank Miller narra a história do rei Leônidas que parte com 300 homens para a morte certa na luta contra o exército do rei Xerxes. A superioridade numérica persa aparece claramente. Um importante elemento discutido por Heródoto era a questão de quem estava lutando. Do ponto de vista grego, os espartanos representavam a civilização e os persas os bárbaros. Daí o porquê de o Leônidas falar em lutar pela liberdade e que ele comandava homens livres, enquanto Xerxes comandava escravos. Trata-se de uma questão de como ver o outro, o rival.
Durante a obra, Miller descreve a seriedade e o aspecto guerreiro do povo de Esparta. Realmente, essa cidade-estado tinha uma característica de submeter às populações ao seu redor e de preparar seus homens para o combate. Um espartano só voltava “com seu escudo, ou sobre ele”, como diria a mulher de Leônidas, antes dele partir para o combate na obra de Miller.
Mapa do Império Persa
Durante muito tempo, Esparta teve disputas com cidades vizinhas. Supõe-se que boa parte do seu poderio de deve ao legislador Licurgo (não se sabe ao certo se existiu ou não), que teria elaborado as leis da cidade. Quando começaram as Guerras Médicas, no final do período arcaico, Esparta era a principal potência militar da Grécia. Baseada num princípio do “bem comum”, a lei de Esparta evitou que a cidade-estado caísse na tirania, como ocorreu em várias outras nesse momento. Por isso, que em “300”, os espartanos dizem lutar pela liberdade, se recusando ajoelhar-se perante Xerxes: a cidade de Esparta era “livre” e “independente”, pelo menos no que se refere aos homens que haviam nascido ali, desde que fossem todos filhos de espartanos.
Localização do desfiladeiro das Termópilas
onde teria ocorrido a batalha dos "300 de Esparta"
            A batalha de Termópilas deve ser inserida no contexto das Guerras Médicas, ou Persas, durante a expansão persa para a Ásia Menor. Houve duas guerras. A primeira foi consequência da revolta das cidades da Jônia, em 494 a.C. contra o domínio persa de mais de cinquenta anos. Atenas apóia estas, mas o rei persa Dario sufoca a rebelião e decide atacar Atenas no ano de 490 a.C. Porém, os gregos vencem a batalha em Maratona.
            A segunda, com as tropas persas lideradas por Xerxes, filho de Dario se deu em 480 a.C. Estes tiveram que esperar dez anos pela revanche, pois se viam obrigados a acabar com diversas revoltas internas que pipocavam no seu império.
            Xerxes montou um grande exército e deu início a uma invasão armada pesada para atacar os gregos. Porém, dessa vez, Atenas ganhou o apoio de Esparta de outras cidades-estado. Nestas circunstancias que Leônidas e seus soldados tentam, mas não conseguem barrar os persas em Termópilas. Mesmo com a heróica resistência, o exército de Esparta foi cercado e derrotado.
            A principal vitória grega veio com Atenas, na batalha marítima de Salamina. Os atenienses abandonaram a própria cidade, se refugiando na ilha de Salamina. Os persas tinham navios maiores e tentaram a invasão sobre a ilha por mar. Os gregos, com menos e menores navios, mas mais rápidos e ágeis, conseguiram a vitória. Após, houve a expulsão dos persas da Grécia.
            Como resultado dessa guerra, Atenas se consolidou na principal potência da região, dando início a hegemonia desta cidade-estado, assim como ao controle grego sobre o mar Egeu e a consolidação da democracia ateniense. Este momento ficou conhecido como o período clássico da Grécia Antiga.
            É importante relativizar a história contada por Heródoto. Primeiro, no que se refere à questão da Grécia como civilização e símbolo da liberdade em contrapartida do despotismo persa. A rigor, estes últimos tinham uma tolerância religiosa. Tanto que algumas cidades-estado gregas se posicionam em prol dos persas. Esta contraditoriedade foi uma construção grega. A outra se refere a relativizar o tamanho e o poderio que Heródoto atribui ao exército de Xerxes. Dificilmente, as tropas persas estivessem em número tão grande. De qualquer maneira, os gregos tiveram que enfrentar uma invasão tanto por mar, como por terra.
            A história de rei de Esparta e a corajosa resistência de seus soldados pode até ter sido romanceada por Heródoto e muito mais tarde por Frank Miller. Mas, mesmo assim é muito interessante se utilizar da HQ, ou do filme para trabalhar com História da Grécia junto aos alunos, desde que devidamente contextualizados.
Bibliografia:
MOSSÉ, Claude. e SCHNAPP-GOURBEILLON. Annie. Síntese de História Grega. Lisboa, Edições Asa, Lisboa, 1994.
HERÓDOTO, Histórias. – em diversas edições, disponíveis até na internet.
MILLER, Frank. Os 300 de Esparta. São Paulo, Devir, 2006. 
300. Zack Snyder. EUA: 2006. Warner Bros. 2006, DVD, colorido.

Nenhum comentário: