quinta-feira, 15 de março de 2012

Uganda

Nos últimos dias um vídeo do youtube vem tomando conta da internet e do facebook: trata-se de um documentário denunciando as ações de Kony, chefe de uma milícia em Uganda, responsável por raptar e escravizar crianças, além de matar milhares de pessoas. Muito bom que as pessoas se preocupem com esse caso, as redes sociais podem ser usadas para outros fins além de só divulgar o que fizemos no fim de semana, ou falar da Luiza no Canadá. É excelente que as pessoas demonstrem interesse em Uganda, um país subdesenvolvido e miserável, perdido no meio da África. Mas é uma pena que somente assim que os olhos do mundo se voltem para esta região pobre e explorada. Veja o vídeo que tem mobilizado as pessoas em volta do mundo:

Uganda, como tantas outras regiões africanas, foi vítima do imperialismo europeu que varreu este continente entre 1880 e 1814. Foi ocupada pela Grã-Bretanha, como parte da estratégia de ocupar a nascente do rio Nilo, no lago Vitória. Desde 1894, Uganda se tornou em um protetorado inglês. Este tipo de regime consistia na manutenção das autoridades locais do período pré-colonial, desde que subordinadas às metrópoles. O governo sob protetorado não tinha direito de organizar um exército e transferia suas relações diplomáticas para a metrópole que o dominava.
Em vermelho o território de Buganda
em comparação com o resto
da atual Uganda
No caso ugandense, foi mantida a estrutura monárquica e as entidades políticas do reino de Buganda, ao qual foram incorporados outros pequenos reinos locais. Há que se destacar que mesmo assim, etnias que não faziam parte do reino de Uganda sofreram muito os reveses da dominação inglesa. Foram instaladas companhias inglesas que controlavam as plantações de algodão com mão de obra nativa e trabalho forçado, com produção destinada para a exportação. Mesmo assim, Uganda era a região mais rica e populosa da África oriental britânica. 
A partir dos anos 40, com o fim da Segunda Guerra, surgem protestos contra o domínio britânico e situação de pobreza local. A união de dois elementos pode ser apontada para esta sublevação: um nacionalismo de Buganda e uma revolta das populações de outras regiões que compunham o território de Uganda cansadas da exploração dos ingleses
No início dos anos 60, Milton Obote pleiteia a autonomia de Uganda e funda a Uganda National Congress (UNC), que se transforma em Uganda People’s Congress (UPC). Em 9 de outubro de 1962, os ingleses cedem e Uganda se torna um país livre e independente. Surge um governo de união nacional com Obote dividindo o poder com o rei de Buganda, ou “kabaka” no idioma local, Mutesa III. Mas entre 1966 e 1967, Obote, com o apoio do exército, destitui o monarca, incorpora Buganda pela força e institui uma república presidida por ele.
Obote se dizia socialista, mas o país continuava sendo miserável, com uma economia voltada para a agricultura de exportação e com empresas estrangeiras que ainda operavam em Uganda. Até quem em 1971, o general Idi Amin deu um golpe de estado em Obote. 
Idi Amin
Entre 1971 e 1979, Idi Amin governou Uganda com uma ditadura feroz, que está entre os regimes que mais violaram os direitos humanos nos últimos cinquenta anos. Uma boa ideia do governo de Idi Amin pode ser tirada a partir do filme “O Último Rei da Escócia”, com Forest Whitaker no papel do ditador. Como se não bastasse a cruel e sanguinária ditadura Idi Amin privilegiou uma etnia local, no caso a nubi, que detinha o monopólio de boa parte da economia do Estado. Como resultado, no início dos anos 80, Uganda ocupava uma das piores posições em países desenvolvidos no mundo. 
Idi Amin foi derrubado em 1979 por tropas da Tanzânia, com apoio de parte da população ugandesa. Foi formado um governo interino presidido por Yusuf Lule, que no mesmo ano foi derrubado por Godfrey Binaisa. Mais quatro presidentes ocupariam o cargo só da década de 80, o que evidencia a instabilidade política do país. 
Em Uganda, como em tantos outros países da África houve uma divisão arbitrária do território, por parte das potências europeias a revelia das populações locais. As fronteiras impostas não obedeciam a nenhum critério histórico ou social. Como se não bastasse a situação de penúria, nos mesmos anos 80, os países africanos se viram obrigados a se socorrer de empréstimos do Fundo Monetário Internacional. As medidas que o FMI impôs para fazer os empréstimos, como cortes no orçamento e privatização de estatais, quebrou mais ainda os países do continente africano. 
Como se vê a situação de Uganda não é recente. Por anos o país sofre com a ditadura de Idi Amin, que matou cerca de 300 mil pessoas. Desde 2011, os Estados Unidos intervieram, mandado tropas para o país, na expectativa de terminar com os conflitos causados pelo Exército de Resistência do Senhor e pelo seu líder, Joseph Kony. Em tempo: no ano de 2010 foram descobertas grandes reservas de petróleo na região. 
É ótimo que as pessoas compartilham e divulguem o vídeo que denuncia Kony. Mas antes disso é importante que saibam a História de Uganda e quando que alguém realmente se importou com este país. Cabe lembrar que situações de conflito existem por toda a África, mas quase nunca são lembradas pela mídia ocidental.
Mapa atual de  Uganda

Bibliografia:

MACEDO, José Rivair. (org.). Desvendando a África. Porto Alegre, editora da UFRGS, 2008.

VISENTINI, Paulo Fagundes. RIBEIRO, Luiz Dario. PEREIRA, Analucia Danilevicz. Breve história da África. Porto Alegre, Leitura XXI, 2007.

Mazrui. Ali A. Mazrui e Wondji. Christophe. História geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília, UNESCO, 2010. Disponível para download.
LINHARES, Maria Yeda. A luta contra a metrópole (Ásia e África). São Paulo, Brasiliense, 1981.

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