quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sobre o terror que veio do frio

Semana passada o mundo inteiro se chocou com os atentados cometidos por um homem de extrema-direita na Noruega, que matou 77 pessoas. As pessoas se perguntavam “mas logo lá, onde entregam o Prêmio Nobel da Paz?”, como se alguma coisa dependesse da outra. O assassino, Anders Behring Breivik, dizia ser contra os imigrantes, que segundo ele, contaminavam o norueguês puro, membro da raça ariana, numa perspectiva abertamente racista.
Os grupos de extrema-direita e neonazistas na Europa vêm crescendo desde finais dos anos 80, início dos 90. O racismo, antissemitismo e xenofobia são algumas das características em comum destes grupos. Em países como a Áustria e a França, partidos ligados à essas propostas têm tido sucesso nas eleições, como é o caso de Haider e de Le Pen.
Alguns podem argumentar que a França e a Áustria foram aliadas da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra. A primeira se rendeu aos nazistas em 1940, sendo que a metade sul ficou sob controle do governo colaboracionista de Vichy. A Áustria foi simplesmente anexada pela Alemanha em 1938. Colaboracionistas foram justamente aqueles governos que deram apoio a Hitler durante a Segunda Guerra. Como que a Noruega e outros países nórdicos participaram da Segunda Guerra?
A rigor, a postura de cada país durante a Segunda Guerra, pouco tem a ver com o lamentável êxito das forças de extrema-direita atualmente. Fosse assim, a Alemanha seria governada por estes partidos. Na realidade, a posição de cada nação durante o conflito deixou várias máculas internas, que em alguns casos ainda não foram cicatrizadas, como é o caso da França, por exemplo.
A Suécia se declarou neutra, assim como a Suíça e não foi invadida. Contudo, deixou que os nazistas utilizassem suas ferrovias e explorasse seus minérios, o que foi de extrema importância para a economia alemã durante a guerra.
A Finlândia foi atacada pela URSS em 1939, tendo resistido e rechaçado a ofensiva soviética em março de 1940.
A Dinamarca foi ocupada pelas forças nazistas em abril de 1940 sem oferecer resistência à tática de blitzrieg nazista. Contudo, o país continuou com o governo social-democrata anterior à invasão. Parte dos judeus dinamarqueses conseguiu fugir para a Suécia.
A Noruega foi atacada pelos nazistas na mesma operação que invadiu a Dinamarca. Tropas de ingleses e franceses tentam impedir a invasão sem sucesso. Neste país, contudo o rei Haakon fugiu e os nazistas entregaram o poder a Vidkun Quisling, um fascista norueguês. Na Noruega se forma, assim, um governo colaboracionista.
Em geral, a resistência aos nazistas nesses países era organizada por grupos nacionalistas e conservadores e não por comunistas, como na Iugoslávia por exemplo. Após a guerra e a derrota do Eixo, vários apoiadores do nazismo foram condenados na Dinamarca e na Noruega. Os noruegueses pareciam “ter feito as pazes” com o passado. Pelo menos até os eventos da última semana.

Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991.São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
SCHILLING, Voltaire. Segunda Guerra Mundial.Porto Alegre, Ed. Movimento, 1986.
VICENTINI, Paulo Fagundes. “O ressurgimento da extrema-direita e do neonazismo: a dimensão histórica e internacional”. In:_________. Neonazismo, negacionismo e extremismo político. Porto Alegre, Ed. da Universidade/UFRGS, 2000.
VICENTIZI, Paulo Fagundes. Segunda Guerra Mundial: história e relações internacionais, 1931-1925. Porto Alegre, Ed. da Universidade/UFRGS, 1989.

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