quinta-feira, 7 de julho de 2011

Napoleão na Rússia




A guerra foi uma constante da França no período pós-Revolução de 1789. Mais do que uma vontade, foi uma necessidade. Os países vizinhos não viam a hora de acabar com aquela revolta que ameaçava os seus sistemas de governo. Pois a Revolução vinha justamente contra o Antigo Regime centrado em um governo Absolutista, uma sociedade estamental que privilegiava os nobres e num capitalismo comercial monopolista. A Revolução Francesa pôs tudo isso abaixo ao instaurar uma República, criar uma sociedade onde todos tinham os mesmos direitos e ao propor um livre comércio.
Napoleão Bonaparte veio corroborar todas as conquistas da principal classe revolucionária: a burguesia. Foi levado ao poder em 1799 por suas habilidades militares, já demonstradas desde o início da oposição europeia à Revolução. Em 1804 se proclamou Imperador. Conquistou boa parte da Europa e do norte da África, levando os ideais revolucionários para estas terras. Ou melhor: difundindo as vitórias que a burguesia obteve na França para o resto da Europa, ainda que para isso tomasse medidas conservadoras e autoritárias. Se por um lado, os sucessos militares e medidas de Napoleão contribuíram para fazer com que o Antigo Regime fosse derrotado, por outro eliminaram o sonho de “liberdade, igualdade e fraternidade” do início da Revolução Francesa, excluindo os jacobinos de vez do processo político.
A França tinha após a Revolução diversos rivais. E derrotou a maioria deles em curto tempo. O exército napoleônico venceu a Prússia, a Áustria e inclusive a Rússia, além de ter ocupado a Espanha, a Itália, a Renânia, a Savoia, a Suíça, o Egito, Malta e a Síria. Isso tudo em menos de dez anos. Ocorre que Napoleão não conseguiu vencer a Inglaterra em batalha. Por isso, tentou impor o bloqueio continental, que impedia o comércio da Europa com os ingleses, o que minaria o sistema econômico britânico. Como o czar russo se negou a aceitar o bloqueio, Napoleão se viu obrigado atacar o seu país em 1812. Ocorre que a Rússia era muito diferente dos países que o exército francês costumava invadir. Em geral, estas áreas eram densamente povoadas e ricas o suficiente para o abastecimento de suas tropas. A Rússia, ao contrário, tinha espaços vastos, vazios e pobres. 
Bonaparte chegou até Moscou no mês de setembro de 1812, mas a encontrou incendiada pela sua própria população. Viu-se obrigado a recuar, mas na volta ainda enfrentou o inverno russo. Esta estação é longa, com muita neve e muito frio. Em Moscou, por exemplo, chega a fazer -40o. Contudo não foi apenas o inverno que derrotou Napoleão, mas também a falta de suprimentos para suas tropas devido à escassez de alimentos na Rússia. De 610 mil homens que entraram no território russo, apenas cerca de 100 mil voltaram.
Napoleão retorna da Rússia no rigor do inverno
Debilitado, com suas tropas arrasadas, Napoleão foi presa fácil para seus antigos inimigos e para suas antigas vítimas. Áustria, Rússia, Prússia e Inglaterra chegaram a atacar a França e vencer o exército napoleônico em abril de 1814. O líder francês ainda ensaiou uma volta no ano seguinte, mas foi liquidado de vez em Waterloo.
Liev Tolstoi ambienta o seu Guerra e Paz na Rússia durante a invasão de Napoleão. Quem encarar os quatro volumosos livros que compõem a obra poderá ter um bom panorama da vida dos russos no início do século XIX.
Outro importante trabalho artístico é o concerto musical de Piotr Tchaikovsky, Abertura 1812. Nela, seu autor conta justamente o fracasso das tropas francesas nesse ano. Durante a música é possível escutar acordes do hino francês, A Marselhesa. E isso tem uma razão simples: mais do que somente o hino de um país, esta era a canção de uma revolução burguesa, cujos ideais, Napoleão tratou de difundir pela Europa até ser derrotado na Rússia. Para os apressados e para quem não admira música erudita, vale a pena escutar ao menos, os minutos finais, que contam com os tiros de canhões, remetendo à guerra.
Bibliografia
HOBSBAWM, Eric. Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.
TOLSTOI, Liev. Guerra e Paz. Porto Alegre, L&PM, 2007. 4 volumes.

O final de "Abertura 1812" de Tchaikovsky, pela Orquestra Filarmônica de Israel.
 

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