Acabei de
ler na internet, mas não acreditei. Tive que ligar o rádio para
confirmar: Nelson Mandela faleceu. Talvez, para as novíssimas
gerações essa notícia não tenha muito significado. Mas para nós,
que vivemos os idos dos anos 90, Mandela extremamente importante. Um
modelo de político e de como fazer política. O homem que lutou
contra o repulsivo regime de apartheid sul-africano, um
cidadão por quem todos nós torcemos que tivesse sucesso. Ainda
lembro da sua chegada ao poder na África do Sul após anos de um
sistema racista e excludente.
A África
do Sul teve uma colonização europeia relativamente cedo. Desde o
século XVII os holandeses da Companhia das Índias Orientais já se
instavam ali. No século seguintes, expandiram suas terras e formaram
os boeres, camponeses no idioma batavo. Eram portanto,
fazendeiros. Tornaram-se extremamente segregacionistas e criaram um
grupo próprio: os afrikaaners,
com um idioma próprio. Mas os ingleses também tinham interesse na
região, o que gerou uma série de disputas sobre a região, sendo a
principal dela a Guerra dos Boeres entre 1899 e 1902. O principal
interesse em jogo era o ouro da região do Transvaal, onde fica a
cidade de Pretória. Em 1910, num contexto de partilha da África, os
ingleses e os afrikaaners
entraram em acordo, estabelendo o Domínio da África do Sul, uma
região que fazia parte do Império Britânico, mas tinha
administração autônoma. Ali criou-se um regime segragacionista, no
qual os negros que eram 75% da população podiam ter apenas 7,3% das
terras.
Em
1948 a África do Sul ficava independente dos ingleses. Era o início
do regime aparheid
oficialmente. A partir de 1959 o governo racista sul-africano cria os
bantustões. Bantustão era o nome dado a reservas de terras nas
quais os negros teriam um autogoverno. Ou seja, o objetivo era
isolá-los cada vez mais do convívio com os brancos ingleses e
afrikaaners.
A
resisência ao segregacionismo por parte dos negros sempre existiu.
Em 1912 foi criado o Congresso Nacional Africano (CNA), que em
princípio, buscava um diálogo com os boeres,
o que mostrou-se inviável. A partir dos anos 40, principalmente
durante a Segunda Guerra, foram organizadas greves mostrando a
insatisfação com o racismo e a exclusão.
É nesse contexto que surge a figura de Mandela, destacando-se ao
lado de Oliver Tambo como um dos líderes do CNA. Em 1959 houve uma
divisão no CNA, surgindo o Congresso Pan-Africanista, que em 1960
organiza um protesto na cidade de Shapeville contra a lei que
limitava o número de trabalhores negros em áreas exclusivas dos
brancos. Claro que foi duramente reprimido e as duas organizações
são postas na ilegalidade.
Devido
a essa situação,o CNA cria um grupo armado, o mK. Em 1963, Mandela
é preso e a luta contra o regime de apartheid
arrefece. Some-se a isso a existência de regimes excludentes em
países vizinhos, como a Namíbia e o alto investimento estrangeiro,
que explorava a mão-de-obra barata na região.
A África do Sul tornou-se um dos países mais ricos do mundo, mas os
negros viviam na miséria. Nos bantustões não havia nenhum tipo de
serviço ou de assistência, o que provocou uma saída em massa
dessas regiões. Sem ter para onde ir, acabaram se instalando nas
perifierias das grandes cidades sul-africanas, formando verdadeiros
guetos, já que não podiam habitar os bairros brancos. Em 1976 houve
um levante num desses guetos em Johannesburgo, no lugar conhecido
como Soweto, sigla para South West Township. No episódio morreram
cerca de 600 pessoas, o que comoveu o mundo. Para muitos jovens de
Soweto, a figura de Mandela era importante, como um ícone da luta
contra a repressão e o isolamento.
A partir do massacre do Levante de Soweto, o investimento de capitais
estrangeiros passou a diminuir no país, até que na década de 80,
houve um boicote internacional. Várias revoltas explodiram entre
1984 e 1987, mas o então presidente Pieter Botha não
negociava nada com a CNA, considerando-a ilegal, ainda que tenha dado
algumas concessões econômicas aos negros.
Em
1989 Franklin De Klerk chega ao poder na África do Sul. Em 2 de
fevereiro de 1990, anuncia a legalização da CNA e do Congresso
Pan-Africanista, além da libertação de Nelson Mandela e de outros
presos por motivos políticos. Uma nova Constituição foi criada
entre 1991 e 1992, reunindo 200 pessoas de 19 partidos distintos. No
ano de 1992, De Klerk chama a minoria branca para um referendo no
qual, decide-se pela continuação das negociações para o fim do
aparheid.
Em
junho de 1993 é decidido que haveria eleições em abril do ano
seguinte. Nelson Mandela foi eleito e pela primeira vez na África do
Sul, a maioria escolheu o seu líder. O caminho até o fim do
aparheid foi longo e
tortuoso e entre 1992 e 1994 houve episódios de violência de
brancos com os negros. Apesar disso, Mandela foi muito hábil em
costurar um novo país, não baseado na vingança por anos de
segregação, mas pela perspectiva de um novo futuro.
Mandela foi uma liderança rebelde dentro da África do Sul contra um
regime extremamente racista, por entender que a violência era a
única forma de resistir e protestar contra tal repressão. Ficou
preso por quase quarenta anos em virtude disso e tornou-se o maior
líder do seu país e um dos maiores estadistas do século XX. Apesar
dos anos de prisão, Mandela comandou a África do Sul buscando
inserir negros e brancos em um só país. Destaca-se o papel de sua
esposa, Winnie Mandela, que quando seu marido esteve preso, foi um
das vozes mais atuantes contra o regime e pela libertação de
Madiba.
Bibliografia:
VISENTINI, Paulo Fagundes. RIBEIRO, Luiz Dario. PEREIRA, Analucia Danilevicz. Breve história da África. Porto Alegre, Leitura XXI, 2007.
Mazrui.
Ali A. Mazrui e Wondji.
Christophe. História
geral da África, VIII: África desde 1935.
Brasília, UNESCO, 2010. Disponível para download.
MACEDO,
José Rivair (org). Desvendendo
a história da África.
Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2008.
HOBSBAWM,Eric. Era dos Extremos. São Paulo, Ed.Cia, das Letras, 1995.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Impérios. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 1998.
HOBSBAWM,Eric. Era dos Extremos. São Paulo, Ed.Cia, das Letras, 1995.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Impérios. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 1998.
Rafael, concordo com todas as tuas palavras!!!
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