segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Império Contra-Ataca – O governo Reagan


Cartaz do filme
"O Império Contra-ataca"

Em 1980 era lançado o filme “O Império Contra-Ataca”, segundo na trilogia “Guerra nas Estrelas”, dirigido por George Lucas. No mesmo ano, o ex-ator Ronald Reagan elegia-se presidente dos EUA. O que estes fatos têm em comum além do cinema?
O filme conta a história da retomada das forças do Império liderado por Palpatine sobre os rebeldes jedis. Após serem atacados no sue coração, na sua maior nave, os siths revidam e dão um pau no nos rivais.
O presidente americano anterior a Ronald Reagan, o democrata Jimmy Carter, colocava em pauta a defesa dos direitos humanos. Dessa maneira, no final dos anos 70, Carter retirou o apoio dos EUA a diversas ditaduras na América Latina, intermediou acordos de paz, como o entre Israel e Egito e na economia defendeu o estado keynesiano.
Trailer do filme "O Império Contra-Ataca"

O ator que ocupou a Casa Branca entre 1981 e 1988 – ele se reelegeu – era o contrário de tudo isso. Seu governo junto com o de Margaret Thatcher foi conhecido como a “reação conservadora”. Mas vamos por partes. Primeiro a economia.
Reagan: o ator se elege
presidente
Sai de campo o estado de bem-estar social, o keynesianismo e entra o neoliberalismo. Os anos 70 e 80 foram marcados por uma grave crise econômica causada pela “crise do petróleo”, quando houve o aumento dos preços do produto depois de 1973, na Guerra do Iom Kipur. Muitos governos estavam falidos graças aos seus gastos com benefícios sociais como aposentadoria e seguro para desempregados – característicos do Estado de Bem-Estar Social. Assim, as despesas cresciam mais que as rendas.
Já o neoliberalismo previa a privatização das estatais e a não-intervenção do estado na economia, inclusive no diz que respeito à legislação trabalhista. Conforme Reagan, “o Governo não era a solução, mas o problema”. Como o objetivo do neoliberalismo era o lucro, o livre mercado era incentivado, o que deixava a maior parte da população sem assistência social. Isso significava um retorno a um estágio do capitalismo anterior aos anos 40.
Em termos políticos, o governo Reagan demonstrou um retrocesso nas relações internacionais dos EUA. O início dos anos 80 também é conhecido como “Segunda Guerra Fria”, no qual o enfretamento com a URSS foi retomado. O objetivo era o fim do bloco socialista.
Os americanos começaram uma corrida armamentista que os soviéticos não conseguiram. A capacidade industrial do leste europeu estagnou-se, devido à economia planificada. Assim setores – como o da informática – não foram desenvolvidos, o que levou a economia soviética ao colapso.
Reagan e Thatcher: estadistas que deram grandes
passos em direção ao neoliberalismo
Em relação ao Terceiro Mundo, nova substituição. Sai a “defesa dos Direitos Humanos” de Carter, entra a “defesa da democracia e o combate ao terrorismo”. Essa política de Reagan defendia uma atitude intervencionista sobre outros países, nos quais a área de influência fosse ameaçada. Isso já se verificava no fim do governo Carter, quando os EUA apoiaram fundamentalistas islâmicos no Afeganistão contra a invasão soviética.
Reagan, por sua vez, apoiou em Angola a UNITA e o exército sul-africano, que combatiam a MPLA (Movimento pela Libertação de Angola), apoiado pela URSS, que vinham em uma violenta guerra civil.
Na América, Reagan apoiou ditaduras e interveio em regiões onde houvesse um regime pró-sovieticos. Na Nicarágua financiou o grupo “Contras”, que se opunha aos sandinistas que tomaram o poder em 1979. Os sandinistas propunham, por exemplo, uma reforma agrária, o que aos olhos dos americanos era “comunismo”.
Mas o caso mais forte ficou por conta da invasão dos fuzileiros navais dos EUA na pequena ilha de Granada, na América Central. Em 25 de outubro de 1983, os EUA, junto dos exércitos de Barbados e da Jamaica, derrubando o então primeiro-ministro granadino Maurice Bishop, que havia destituído a liderança anterior, estabelecendo um regime sob área de influência soviética. Conforme o governo Reagan, pela proximidade, seria um perigo para os norte-americanos.
Localização de Granada

Ronald Reagan com o então presidente
do Brasil Figueiredo: apoio aos
regimes pró-EUA, mesmo que
fossem ditaduras
A exceção ficou por conta da nossa vizinha Argentina. Ao contrário das expectativas alimentadas pelos generais do regime ditatorial, os EUA não apoiaram os argentinos contra a Inglaterra na Guerra das Malvinas em abril e maio de 1982. Reagan preferiu se omitir e ficar ao lado de Thatcher, primeira-ministra britânica, que compactuava com suas ideias sobre o neoliberalismo. 
Reagan foi semelhante a George W. Bush, tanto pela política externa agressiva como  pelo pouco conhecimento que manifestava sobre assuntos gerais que não diziam respeito diretamente aos EUA. Um exemplo disso foi a viagem de Reagan em maio de 1985 à Alemanha Ocidental. Até aí, tudo bem, fazia parte da política externa da apoio aos aliados dos americanos. Ocorre que o no roteiro estava um cemitério era de combatentes da SS, a tropa de elite não só do Exército, mas também do Partido Nazista e que havia controlado os campos de concentração e extermínio.
A banda punk nova-iorquina, Ramones usou esse fato como inspiração para a música My Brain Is Hanging Upside Down (Bonzo Goes to Bitburg). Bonzo era o nome do chipanzé de um filme protagonizado por Reagan nos anos 50, Bedtime for Bonzo e Bitburg é o nome da cidade onde ficava o cemitério. Confira algumas partes da letra, relacionando com o governo Reagan:
You're a politician
Don't become one of Hitler's children

Bonzo goes to Bitburg then goes out for a cup of tea
As I watched it on TV somehow it really bothered me
Drank in all the bars in town for an extended foreign policy

Em tradução livre: você é um político, não torne-se um dos filhos de Hitler/ Bonzo vai a Bitburg então sai para um copo de chá/ enquanto eu assistia isso na TV de algum modo isso realmente me chateava/ Bebia em todos bares da cidade para uma política externa estendida.
If there's one thing that makes me sick
It's when someone tries to hide behind politics
I wish that time could go by fast
Somehow they manage to make it last

Ainda: se existe alguma coisa que me deixa doente/ È quando alguém tenta se esconder atrás da política/ eu queria que o tempo pudesse correr mais rápido/ De alguma maneira eles o fazem durar.
Capa do Single My Brain Is Hanging Upside Down
Joey e Dee Dee Ramone


Notamos uma crítica da banda Ramones não somente à visita de Reagan ao cemitério, mas também à política externa intervencionista, que defende a todo custo o bloco capitalista, mantendo seus aliados. Dessa maneira, Reagan estaria se transformando em “um dos filhos de Hitler”.
E além disso, os americanos fizeram esse tempo durar, reelegendo Reagan em 1985 e elegendo George Bush pai na eleição seguinte, dando continuidade à política externa republicana. Um adendo: provavelmente a música tenha sido composta por Joey e Dee Dee Ramone já que Johnny, o terceiro integrante da banda, era republicano. Escute abaixo a música:

O governo de Reagan retomou a Guerra Fria e as intervenções, por muitas vezes violentas no Terceiro Mundo. Ordenou inclusive, como visto a invasão da pequena ilha de Granada. Logo, sua relação, principalmente com a América Latina, foi a de “xerife”, intervindo muitas vezes com violência, tal qual a política do Big Stick implementada no início do século XX. Esta fora a maneira dos EUA de praticar o imperialismo junto aos seus vizinhos, assim como alguns países europeus fizeram com a Ásia e a África. Liderou, junto de Margareth Thatcher, uma política econômica que esquecia dos desfavorecidos, beneficiando algumas grandes empresas, com os objetivos voltados para o lucro. Parece que nem Palpatine e Darth Vader seriam capazes disso.
 Darth Vader e Ronald Reagan:
Nos anos 80, o "Império" reagiu
e conta-atacou com violencia.

Bibliografia:
Bibliografia:
SCHILLIG, Voltaire. EUA x América Latina: as etapas da dominação. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
VICENTINI, Paulo. Da Guerra Fria à Crise (1945-1990). Porto Alegre, Editora da Universidade, 1990.

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