Cartaz do filme "Três homens em conflito" |
A
Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana gerou vários filmes e livros. Um
dos meus preferidos é “Três Homens em Conflito” (The good, the bad and the ugly, em inglês; ou “O bom, o mau e o
feio, em livre tradução – o título original é em italiano: Il buono, il brutto,
Il cattivo), que usa a guerra como pano de fundo. O filme do ano de 1966,
dirigido por Sergio Leone com Clint Eastwood é excelente. Homenagem ao “western
spaghetti”, traz o sangue e sujeira dos protagonistas na medida exata do que
procura retratar.
A
Guerra Civil nos teve várias causas. A imediata coube à pretensão da União de
abolir a escravidão. Enquanto em 1861 o sul ainda era escravista, o norte dos
EUA deixou de sê-lo na virada do século XVIII para o XIX. Mas para entender o
porquê disso é preciso entender a estrutura dos estados do sul e no norte desse
país.
Escravos trabalhando numa plantação no sul dos EUA |
A
economia sulista era basicamente agrária, voltada para o cultivo do tabaco, do
algodão, mas também de gêneros alimentícios como o milho. Com grandes
propriedades de terra e mão de obra escrava oriunda da África, o sul dos EUA
era muito semelhante ao Brasil. Já o norte era dominado por uma burguesia
industrial e nessa região já vigorava a mão de obra assalariada.
Dessa
maneira, as contradições eram imensas: o sul, representado por estados como a Georgia,
Louisiana e Texas; tinha interesses muito diversos do norte. Para além da
escravidão havia outros problemas como a discussão do futuro das terras do
oeste americano, que estavam sendo desbravadas e ainda eram um tanto
desconhecidas. É nesse cenário que se desenrola “Três Homens em Conflito”. A
elite sulista pleiteava que fossem terras baratas, para que pudessem ser
compradas pelos grandes proprietários. Já a elite do norte queria que fossem
caras, pois os capitalistas temiam que seus operários debandassem para o oeste.
No mapa acima, estados sulistas (escravistas) em rosa e nortistas (abolicionistas) em azul no ano de 1861, quando começa a Guerra de Secessão |
Outra
questão relevante era a dos impostos sobre as importações: enquanto os sulistas
pretendiam que fossem baixos, para que conseguissem adquirir produtos
industrializados com maior facilidade, os nortistas exigiam que fossem elevados
para evitar concorrência com seus produtos.
Abraham Lincoln |
Em
1860 Abraham Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos com a plataforma
de abolir a escravidão. Descontentes com essa situação, os sulistas tentaram a
separação, ou a secessão. Sob o nome de Estados Confederados da América, estes
projetavam uma nação independente, o que foi rechaçado e impedido pelo norte,
que pretendia manter a União. Assim, o norte invadiu o sul, para que não
houvesse separação.
A
Guerra durou longos quatro anos e consumiu a vida de cerca de 618 mil pessoas.
A tragédia dos combatentes é mostrada no filme em diversas cenas, como as na
prisão da União para os confederados, ou como na disputa inútil de uma ponte
que garantiria uma melhor posição estratégica. O cansaço do comandante do
acampamento nortista demonstra que quem faz e morre nas guerras são os homens
simples, e que em geral não querem lutá-la, enquanto os políticos apenas dão
inicio a elas e generais reúnem suas as massas e dão as suas ordens de dentro
dos gabinetes. A cena do cemitério repleto de cruzes também dá uma ideia do
horror que foi esta guerra fratricida.
Imagem representando batalha da Guerra Civil Americana |
Enquanto
o norte era liderado por Lincoln, o presidente confederado era Jefferson Davis.
A guerra começou em 12 de abril de 1861 e terminou em 18 de abril de 1865,
quando o general confederado Joseph Johnston se rendeu. O norte havia ganho o
conflito. Ao fim a guerra, ainda contabilizou outra morte: a do presidente
Abraham Lincoln, assassinado por um sulista.
A
vitória da União colocou o sul novamente no mapa do país. A escravidão foi
abolida, mas isso não significou o fim da exclusão dos negros pela sociedade
americana. Pelo contrário, o racismo ainda hoje é uma mácula muito presente no
sul dos Estados Unidos.
No
filme, três homens procuram um tesouro pertencente aos confederados. No caminho
até ele, veem de perto o conflito. É uma obra imperdível em todos os sentidos.
Pela bela trilha sonora de Ennio Moricone, pela história contada, pela
filmagem, pelos personagens. O bom, o mau e o feio parecem debater sobre o
caráter humano, mas de forma simples e singela. Além disso, o filme é um
faroeste e não tem como um faroeste ser ruim. Como se não bastasse é um filme
de guerra. E também não tem como um filme de guerra ser ruim.
Destaco
ainda que, como em toda a história, não existem os “bons” e os “maus”. Claro que
se tivesse que escolher um lado, eu apoio o norte. A escravidão africana como mão
de obra na América foi um dos fatos mais hediondos da história moderna e contemporânea,
que até hoje nos causa repulsa. O tratamento dado aos escravos era o pior
possível e até hoje sentimos as consequências da escravidão na sociedade
americana. Contudo, ambos os lados cometeram abusos e excessos. A guerra sempre
é violenta das duas partes. Por exemplo: os nortistas arrasaram, saquearam e
queimaram no mínimo duas grandes cidades do sul, Atalanta e Richmond. Assim,
como no filme o “bom”, representado pelo “homem sem nome” do ator Clint
Eastwood também comete atos que a nosso ver parecem imorais.
Veja abaixo, o trailer do filme "Três homens em conflito":
Bibliografia:
EISENBERG,
Peter. A Guerra Civil Americana. São
Paulo, editora brasiliense, 1985.
KARNAL,
Leandro; Fernandes, Luiz Estevam; Morais, Marcus Vinicius de; Purdy, Sean. História dos Estados Unidos: das Origens ao
Século XXI. São Paulo, Editora
Contexto, 2007.
SCHNEIDER,
Steven Jay. (editor geral). 1001 filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro, editora Sextante, 2010.
TRÊS HOMENS EM CONFLITO.Il buono, il brutto, il cattivo. Sergio Leono. Itália/Espanha:
1966.Fox-Microservice. DVD. 161 min., colorido.
Muito bom professor Burd, bela sinopse histórica destes dois clássicos: "três homens em conflito" e a guerra de secessão.
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