quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O governo Jânio Quadros


Jânio Quadros
Há 50 anos, em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciava à presidência da República. O seu mandato durou pouco menos de sete meses e foi repleto de contradições. A rigor, surgiu do nada, numa carreira política “meteórica”. Foi de vereador paulistano a governador do estado de São Paulo em oito anos. Em 1960 se candidatou a presidente do Brasil pelo pequeno PTN (Partido Trabalhista Nacional), com forte apoio da UDN (União Democrática Nacional), se elegendo na brecha ocasionada por uma crise econômica no final do governo de Juscelino Kubitschek. Venceu as eleições em 1960 derrotando o General Lott e Ademar de Barros
O governo de Jânio Quadros se destacou por ser autoritário, moralista, personificado, numa espécie de “populismo de direita”. Ou seja, era popularesco, folclórico, arrebatando dessa maneira as massas. O símbolo da sua campanha era a vassoura, que iria “varrer” a corrupção do Brasil.
Politicamente, seu governo, ou melhor, a sua campanha política, foi um agrupamento de pequenos partidos sob a batuta da UDN. Contudo, com o tempo Jânio se revelou extremamente personalista. Julgava-se acima dos partidos e do congresso. Não nutria muito respeito pelo Legislativo, aliás. Uma de suas práticas mais famosas era a dos “bilhetinhos”. Enviava recados para os seus ministros, que se transformavam em meros cumpridores de suas determinações. Ainda tomou medidas esdrúxulas como proibir a rinha de galo e o biquíni.
No plano econômico Jânio retomou relações com o FMI, que haviam sido rompidas em 1959 no governo JK. Tratou de desvalorizar a moeda nacional, o Cruzeiro, conter os gastos públicos e cortar os incentivos financeiros aos produtos importados. Assim, favorecia os investidores estrangeiros e a burguesia agrário-exportadora, mas a inflação cresceu.
As principais medidas de Jânio foram no plano das Relações Internacionais. Buscando uma política externa independente se aproximou de países socialistas, como URSS, China e Cuba, e das nações que surgiam na África e na Ásia. Não devemos esquecer que em 1961, o mundo vivia a chamada Guerra Fria, que opunha soviéticos e americanos. Ao se declarar independente, Jânio acreditava que o Brasil deveria se relacionar tanto com os socialistas, como com os capitalistas, como com o Terceiro Mundo.
Jânio condecorando Ernesto "Che" Guevara
Uma semana antes de renunciar, condecorou com a Ordem do Cruzeiro do Sul (a mais importante comenda dada aos estrangeiros) Che Guevara, o argentino que tomou parte na Revolução Cubana, o que desagradou muito os membros da UDN. A homenagem a Guevara não tem relação com Jânio ser socialista ou não, o que de fato não era, muito pelo contrário, se declarou antissocialista em algumas oportunidades. Tem a ver mais com sua política de relações internacionais independente.
Jânio tentou fazer com que todos “pertencessem” ao seu governo, o que resultou em fracasso. Os partidos em disputa eram muito antagônicos, não havia como agradar “a gregos e troianos” e suas medidas somente repeliram sua base aliada da UDN e afastaram ainda mais o PTB e o PSD.
No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros entregou ao Congresso sua carta-renúncia. Tal ato, segundo ele, se devia a “forças ocultas”, que nunca foram muito bem explicadas. A verdade é que o presidente estava sozinho, a oposição crescia e se tornava mais ruidosa.
Capa de jornal noticiando a renúncia
Muitos entendem que Jânio renunciou confiante de que seria chamado de volta. Achava que a elite não deixaria o poder nas mãos de João Goulart, herdeiro de Vargas, ligado aos sindicatos. Imaginava que o povo ia querer o seu retorno, ia pedir para que ele governasse de novo. Acreditava que ao retornar ao cargo, poderia governar com um Executivo super fortalecido, sobre os parlamentares e sobre os partidos.
Mas nada disso aconteceu. O que ocorreu foi uma crise sucessória, que resultou na Campanha da Legalidade e na posse de João Goulart como presidente num sistema parlamentarista.
Julgar Jânio como um maluco, que tomou medidas doidas e que renunciou pela loucura é meio perigoso. Parecia existir na sua decisão final uma espécie de golpismo, pois entendia que seria chamado de volta para presidência com amplos poderes. Seu moralismo e autoritarismo, aliado ao seu desprezo pelo Legislativo vêm endossar essa ideia.
Creio que Jânio Quadros parecia não estar preparado para o cargo de presidente da República, sendo levado até lá pela direita conservadora, leia-se UDN. Esta havia conseguido uma vitória no pleito para o Executivo Nacional, eram elitistas demais para isso. Jânio e sua “vassourinha” pareciam perfeitos para a eleição de 1960. A UDN achava que poderia manobrar Jânio, porém não foi bem assim. Ele achava que teria o carisma suficiente para governar sozinho, uma espécie de Napoleão Bonaparte, ou Getúlio Vargas, mas quando renunciou pouca gente, ou ninguém, sentiu a sua falta.

Ouça o "single" da "vassourinha" de Jânio, uma das mais famosas músicas para campanhas eleitorais:
Bibliografia:
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
BENIVIDES, Maria Victoria. O governo Jânio Quadros. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981.

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