O
Comício da Central do Brasil, tema do post anterior, teve grandes
repercussões no país. Claro que os grupos dominantes rejeitaram as
propostas de Jango. Parece que, entre todos os direitos conseguidos
pela população após a Revolução Francesa, o que é mais prezado
pela elite é o da propriedade privada. Assim, quando Goulart propôs
a reforma agrária, a nossa elite decididiu pela golpe.
Durante
o governo de Jango, o golpe já estava sendo orquestrado,
principalmente por duas instituições extremamente antidemocráticas:
o IPES (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estudos Sociais) e o IBAD
(Instituto Brasileiro de Ação Democrática - por mais estranha que
esta palavra possa parecer).
Os generais ficaram vinte anos no poder |
A capa do jornal "Folha de São Paulo" um dia após a "Marcha com a família" |
O
medo do comunismo era muito forte. Ou ainda, o incentivo ao medo. Na
marcha do dia 19 em São Paulo o senador padre Calazans disse em
discurso: "Hoje é o dia de São José, padroeiro da familia, o
nosso padroeiro. Fidel Castro é o padroeiro de Brizola. É o
padroeiro de Jango. É o padroeiro dos comunistas.”. Assim como no
post anterior, lembro que estávamos em plena Guerra Fria. Cuba, a
URSS e o comunismo eram inimigos a serem combatidos. “Ah – dirão
alguns – mas e se viesse o comunismo?”. Primeiro: não existe
“se” em história. Segundo: as mudanças propostas por João
Goulart não apontavam para o comunismo, mas para alterações
sociais, muitas delas baseadas das ideias do membros, ou ex-membros,
do PTB como Fernando Ferrari e Leonel Brizola. O verdadeiro medo era
das reformas de base que, que entre outras medidas, limitariam os
lucros das empresas multinacionais, o que evidentemente não lhes
seria interessante, promoveriam a reforma agrária e mudariam os
padrões de ensino. Isso soa familiar de alguma maneira. Curioso que
ainda hoje discutimos os problemas dos sem-terra e educação.
O
motivo alegado para os militares como o estopim começou em 25 de
março. Ocorreu uma reunião dos marinheiros no Sindicato dos
Metalúrgicos do Rio de Janeiro, apoiando as reformas e exigindo
melhores condições. O ministro da Marinha considerou uma
insubordinação e mandou que todos fossem presos. Mas Goulart
anistiou-os no dia seguinte. Em 31 de março, foi convidado de honra
e compareceu a uma festa na Associação dos Sargentos e
Suboficiais da Polícia Militar, na sede do Automóvel Clube, no Rio
de Janeiro, o que foi considerado ofensivo. Em resposta, o general
Olympio Mourão partiu de Minas Gerais com suas tropas em direção
ao Rio de Janeiro para o golpe, apoiado por governadores dos
principais estados brasileiros.
O
golpe não foi apenas militar, mas também civil. Se não fosse o
apoio de parte da sociedade civil, não teria ocorrido. Apenas o
governador de Pernambuco, Miguel Arraes do PSB ficou ao lado de
Jango. E apenas um grande jornal apoiava o governo de Goulart, a
“Última Hora”, de Samuel Wainer. Por isso é que é possível
chamar o golpe de civil-militar. Políticos da oposição como Carlos
Lacerda e Adhemar de Barros foram grandes artuculadores do golpe.