quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Zumbi


Desde o início da colonização, Portugal adotou no Brasil a escravidão como mão-de-obra, primeiro a indígena e depois a africana. Ao que tudo indica, os europeus retomaram essa forma de trabalho que hoje nos causa repulsa, pois não tinham contingente populacional suficiente para emigrar em massa para a América.
Provavelmente, a opção pelos africanos foi principalmente econômica, dada a lucratividade do tráfico de escravos. É um erro dizer que os índios eram preguiçosos e indolentes. Eles não tinham a mesma noção de trabalho para produtividade, para excedente e para o retorno financeiro que os europeus. Trabalhavam pela sua subsistência. Houve diversos episódios de lutas dos indígenas contra o colonizador escravista.
Os africanos já conheciam o trabalho agrícola em larga escala, como o que foi implantada na América Portuguesa. Desde a década de 1570, a Coroa lusitana incentivou a vinda forçada de negros para o trabalho escravo nas terras brasileiras. Entretanto, eles não aceitaram passivamente esta condição. Houve diversas rebeliões e fugas de escravos. Talvez a forma mais conhecida de resistência africana no Brasil seja o quilombo.
Localização de Palmares
A grosso modo, quilombo era um lugar para onde os escravos fugitivos do trabalho forçado iam. O mais famoso e maior de todos os quilombos foi o de Palmares, localizado onde hoje é Alagoas. Sua origem, muito provavelmente está ligada a uma fuga em massa de escravos. Ele não foi apenas um grupo de pessoas, mas uma espécie de federação de comunidades. A principal era Macaco, mas também havia Subupira, Dambranganga, Tabogas, Osengas e outras.
Estima-se que Palmares tenha começado no início do século XVII e terminou em 1694, com o massacre e prisão de seus habitantes. O quilombo de Palmares resistiu quase cem anos aos ataques de portugueses e holandeses (não podemos esquecer que entre 1630 e 1654, a Holanda dominou boa parte do nordeste). Ali se formou uma sociedade complexa, diversificada e organizada. Não existiam somente negros, mas também índios e brancos perseguidos pela justiça.
Durante esses quase cem anos, Palmares teve diversos líderes, geralmente chamados internamente de “rei’, o que refletia a autoridades das suas lideranças baseada numa identidade que vinha da África. Um desses líderes foi Ganga Zumba, que em 1678 firmou um acordo com o governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, se comprometendo a não expandir os limites do quilombo, na devolução dos escravos fugidos e na rejeição de novos membros. Em troca, os nascidos em Palmares seriam homens livres.
Esse acordo não deu certo pela oposição de Zumbi. Ele acabou sendo o último líder de Palmares. O bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado pelas autoridades locais para destruir o quilombo. Sua expedição conseguiu derrotar a comunidade de Macaco e aprisionar Zumbi. O líder da Palmares foi enforcado em 20 de novembro de 1695 e teve sua cabeça exposta ao público, para demonstrar aos escravos que Zumbi não era imortal, como alguns poderiam acreditar e para demonstrar o poder de Portugal.
Depois de Palmares, a Coroa passou a perseguir mais os quilombos e a controlar mais os cativos.  Surge a figura do capitão-do-mato, um caçador de escravos. Mesmo assim,ainda houve diversos casos de resistência escrava, revoltas e formação de novos quilombos durante todo o regime escravista.
Busto de Zumbi em Brasília
Com o tempo, Zumbi se tornou um símbolo da resistência escrava. Sua figura atualmente está ligada a diversos grupos de afirmação da população negra no Brasil. Ele até hoje é lembrado e no dia 20 de novembro, recordamos o Dia Nacional da Consciência Negra, quando se discute a inserção no negro na sociedade brasileira.
A rigor, deveríamos ter essa discussão diariamente, permanentemente. Trata-se de um grupo que sempre esteve à margem da sociedade, escravizado por mais de trezentos anos e que quando se viu livre, não recebeu nenhum tipo de assistência do governo.  Considero que examinar a situação do negro no Brasil é sempre importante. A história de Zumbi é uma excelente oportunidade para realizar este debate em sala de aula
Zumbi é lembrando com justiça pelos movimentos negros e em diversos momentos na cultura brasileira, como na espetacular música do grande Jorge Ben que tem o mesmo nome do último líder de Palmares.
 

Bibliografia:
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
REIS, João José. “Quilombos e revoltas escravas no Brasil”. Revista USP, São Paulo (28): 14-39, Dezembro/Fevereiro 95/96. – disponível para baixar na internet.

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