segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pânico em Wall Street


É curioso notar o pouco caso dado aos protestos na atual ocupação próxima da bolsa de valores de Nova Iorque. Tanto os investidores como parte da mídia parecem dar pouca importância ao que está ocorrendo. Entretanto, o valor simbólico desses protestos é inegável. Wall Street continua sendo um núcleo do que ainda se entende por “capitalismo liberal”, ainda que o processo de globalização tenha descentralizado a economia mundial.
Jornal do dia seguinte à quebra da bolsa
Parece que algumas pessoas só têm medo de uma coisa: crise. E só quando ela afeta o setor financeiro, como ocorreu em 24 de outubro de 1929, quando ocorreu a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, momento em que o mundo capitalista conheceria uma crise sem precedentes.
Mas, para compreender esse fenômeno, é importante recuar um pouco no tempo. Nos Estados Unidos, após a Primeira Guerra, se daria um triunfo do liberalismo, o laissez-faire, ou ainda a crença de que a economia deveria andar sozinha, sem a intervenção do governo. Logo após o final da Guerra, os EUA experimentavam um crescimento espetacular. Com a vitória da Entente, o lado dos americanos, e com a Europa destruída, os Estados Unidos puderam assumir a dianteira da economia mundial.
Desta maneira, exportava seus produtos para os europeus que estavam com suas indústrias destruídas. Tudo isso gerou um grande crescimento na economia americana, acompanhada de alto consumismo e produção industrial, o chamado American Way of Life, uma época de riqueza e prosperidade, um espécie de belle époque para os americanos. Porém, essa ascensão econômica não duraria para sempre. O raciocínio para compreender a crise não é fácil e as causas são muitas e interligadas.
Um dos efeitos da crise: fila de famintos e desempregados
em frente a um cartaz louvando o "American Way of Life".
Ocorre que a exportação para a Europa iria terminar um dia, pois a economia europeia se restabeleceria. Logo, a superprodução, ou o excesso de produtos fabricados, começou a gerar sobras de produtos. Para poder vender o excesso, as empresas baixavam os preços. A redução de preços levava as empresas a demitir funcionários para manter o lucro. Com o desemprego em alta, o consumo diminuía, o que levava a nova queda de preços e novas demissões, acarretando, ainda, diversas falências de empresas.
Na realidade, a Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque foi o estouro da crise que já vinha sendo gerada e do círculo vicioso exposto acima. Desde meados dos anos 20 que apenas os grandes proprietários vinham se beneficiando. A agricultura americana estava quebrada e os salários não estavam mais subindo. Quando a crise atingiu a elite, podemos imaginar como estava a camada mais baixa da sociedade.
Como a economia liberal da época era mundial, a crise econômica também encontrou proporções mundiais, pois a economia era interligada. Os EUA vendiam e compravam da América Latina e da Europa, por exemplo, formando algo como uma corrente. Se um elo dessa corrente se rompesse, os demais elos também se veriam prejudicados. Assim a economia mundial entrou nesse círculo vicioso de desemprego e falências. Essa época de desemprego e falências de empresas é conhecida como Grande Depressão.
Essa situação gerou um quadro bastante pesado de miséria. Os que pertenciam à “classe média” empobreceram. Os que já eram pobres viram sua situação piorar.
Ao mesmo tempo, antes e durante a crise e a Grande Depressão se assistia nos EUA, um aumento na repressão aos movimentos de esquerda como, por exemplo, anarquistas e comunistas, um crescimento da Ku Klux Klan, do racismo e da discriminação em geral, acompanhada de um maior rigor religioso e da famosa Lei Seca, que proibiu a venda e consumo de álcool no país.
Muitos acreditam que é nos momentos de crise, difíceis, que a criatividade humana mais desponta. Talvez seja uma maneira de se adaptar e encarar a situação. De qualquer maneira, isso acabou refletindo nos filmes e músicas. É notável a repercussão no jazz, estilo tipicamente norte-americano. Com raízes na música africana, francesa, inglesa, o jazz foi no seu início uma música feita por negros, que faziam parte da camada mais baixa da sociedade e sofriam forte preconceito nos anos trinta.
É fato que as vendas dos discos despencaram com a crise e a Depressão. Os artistas passaram a ganhar menos nas suas apresentações. Mesmo assim, o jazz não deixou de ser ouvido e tocado. Nos anos 30, passou sobretudo a ser uma música “dançante”, apresentada pelas big bands, orquestras de jazz. Parecia ser uma forma de amenizar as dificuldades. Muitos negros continuaram tocando como forma de sobreviver. Mas foi só a partir de 1935, com uma vertente mais pop, denominada swing, que o jazz voltou a prosperar. Nesse meio tempo, o jazz estourou para fora dos EUA, tendo relativo sucesso na Europa.
            Mesmo não sendo um grande entendedor de economia, creio que existem diferenças entre a crise atual, que começou em 2008 e a de 29. Primeiro que a Crise de 29 começou a partir da produção e acabou afetando a circulação de mercadorias e a totalidade da economia. Hoje, a crise parece ser virtual, baseada na especulação, ainda que os efeitos sejam muito sentidos juntos à população.
Além disso, porque em 1929 o auxílio do governo à economia só veio em 1933, com o New Deal implantado pelo presidente Roosevelt. O auxílio não veio somente aos bancos, e aos empresários, como também à população mais necessitada. Hoje, o auxílio tem vindo tão somente aos bancos quebrados, dando pouca importância para a penúria do povo. Os cortes para o socorro aos bancos têm sido justamente realizados nos meios sociais, o que tem levado muita gente protestar em Wall Street e no resto do mundo neste mês.
Abaixo, a big band de Duke Ellington, um dos grandes expoentes do jazz nos anos 30:
Bibliografia:
DROZ e ROWLEY. História do século XX. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1988.
HOBSBAWN, Eric. História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
BILLARD, François. A vida cotidiana no mundo do jazz: Estados Unidos: das origens à década de 50. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

Nenhum comentário:

Postar um comentário