Casablanca é sem dúvida um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Dirigido por Michael Curtiz, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, o filme conta a história de Rick e Ilsa durante a Segunda Guerra Mundial. Casablanca, cidade do Marrocos fazia parte da rota de fuga para a América no período. Ali, Rick possui um bar. Um dia Ilsa e seu marido, Laszlo entram lá. “De todos os bares em todas as cidades do mundo e ela entra no meu!”, reclama Rick. Ele e Ilsa tiveram um romance em Paris, pouco antes da invasão alemã. Ocorre que a garota desiste de Rick para estar ao lado de Laszlo. E Rick possuía dois vistos de saída de Casablanca, o que possibilitaria o casal deixar o lugar para ir a América.
Apresentados os personagens e a história, vamos a uma análise de vários aspectos do filme:
· A Segunda Guerra em Casablanca: É importante destacar que o filme foi gravado em 1942, durante a guerra. A obra foi produzida no “calor da hora”, o que lhe confere um forte aspecto político. Devemos nos perguntar o que Casablanca nos conta sobre o período. A posição dos nazistas e dos alemães como vilões da história é algo muito revelador. No princípio da Segunda Guerra e mesmo hoje em dia, alguns filmes não mostram o povo alemão como responsável pelo regime nazista. Talvez seja espécie de “política de boa vizinhança” de Hollywood. Em 1942, porém isso não seria possível, dada a situação que a Europa e o mundo se encontravam. A “culpa” ou não do povo alemão pelo regime de Hitler é algo que nos levaria a uma longa discussão. Porém não devemos esquecer que ele foi eleito chanceler e que teve grande apoio popular. Também não devemos esquecer que instalou uma ditadura totalitária, em que toda a forma de oposição era perseguida e assassinada. Como lutar contra um regime assim?
· Invasão da França: A Segunda Guerra começa oficialmente em setembro de 1939, quando a Alemanha invade a Polônia. A expansão nazista foi bem rápida e em junho de 1940, já havia chegado à França. A Segunda Guerra foi um dos maiores vexames da história francesa. Em princípio, o governo francês colocou seus soldados na fronteira com a Alemanha, na chamada “linha Maginot”. Contudo, essa estratégia revelou-se errada, já que os nazistas atacaram a França pela Bélgica, que havia sido conquistada, chegando facilmente até Paris em 14 de junho de 1940. No dia 22, a França assinou a rendição. O país foi dividido: o norte ocupado pelos nazistas e no sul se instalou a França de Vichy.
· França de Vichy: O norte da França, incluindo Paris, era alemão, ao qual ainda foram anexados os territórios da Alsácia e Lorena. Ao sul, se instalou um governo fascista e colaboracionista, liderado pelo general Pétain. Conhecido como França de Vichy, por ter essa cidade como capital, teve o apoio da Igreja, da direita e da elite francesa favorável ao nazismo. Em outras palavras, a França de Vichy não passava de um “Estado fantoche” do III Reich.
· A resistência: Na realidade, durante o conflito e a ocupação, a resistência teve pouca importância militar, com exceção da Iugoslávia. Ela só deu as caras, a rigor, no início da invasão e final do conflito, auxiliando os aliados. Durante a guerra, se viu obrigada a permanecer escondida, fugindo, ou realizando ações esparsas. Foi um mito construído após a guerra, pelos novos governos, que boa parte dos membros havia participado da resistência. Era necessário que houvesse heróis depois de um período tão conturbado. O próprio general De Gaulle, líder da resistência francesa, afirmou que “a resistência foi um blefe que deu certo”. E aqui o filme escorrega num erro: as duas cartas que possibilitariam Laszlo e Ilsa deixar Casablanca eram assinadas por De Gaulle. Que não tinha nenhuma autoridade sobre a França de Vichy, afinal, De Gaulle, era o líder da oposição francesa ao III Reich e estava exilado na Inglaterra.
· A guerra na África (Marrocos): A cidade de Casablanca fica no Marrocos, país do norte da África. A região era dominada pela França desde 1926, após uma disputa contra a Espanha. É importante relacionar este controle do Marrocos pela França com o imperialismo, ou neocolonialismo, que consistia em uma expansão européia rumo a Ásia e a África em busca matéria-prima e mercado consumidor para a indústria. Após 1940, o Marrocos fica sob a administração de Vichy. A França, agora colaboracionista, perdeu sua força imperialista perante os dominados devido à invasão, mas ainda assim tinha o controle sobre parte dessas regiões, como era o caso do Marrocos. Curioso que em novembro de 1942, as tropas dos Estados Unidos que lutaram contra o nazi-fascismo na África, desembarcaram justamente no Marrocos e na Argélia.
Bogart em Casablanca |
· E a população durante a guerra: É interessante perceber a posição das pessoas na cidade de Casablanca perante a guerra. Rick, por exemplo, é um americano que havia vendido armas para Etiópia, quando esta foi invadida por Mussolini, além de lutar na Guerra Civil Espanhola contra Franco. Ainda teve que fugir de Paris depois da invasão nazista. Mesmo assim, em Casablanca, se declarava politicamente neutro. Mas pra mim, o personagem mais interessante é o chefe da polícia local, o inspetor Renault. Corrupto e imoral, parece representar bem a maior parte da população durante a guerra e durante um regime de exceção: é necessário “dançar conforme a música”, se adaptar. Assim, Renault se mostra de início colaborador dos nazistas. Mas não deixa de ser amigo de Rick e de realizar apostas no seu bar, ainda que isso fosse ilegal.
Ou seja: a maioria das pessoas é obrigada a se encaixar na nova realidade, mas isso não significa que concordem totalmente com o que ocorre.
É um filme que vale muito a pena ser visto. Quem ainda não assistiu, corre para alugar, ou para baixar. Além de possibilitar bons trabalhos em aula com os alunos.
Trailer do filme:
Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
VICENTIZI, Paulo Fagundes. Segunda Guerra Mundial: história e relações internacionais, 1931-1925. Porto Alegre, Ed. da Universidade/UFRGS, 1989.
HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo, Companhia das Letras, 1994.
CASABLANCA. Michael Curtis. Warner Bros. EUA: 1942. DVD. (102 min), p&b.
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