segunda-feira, 8 de agosto de 2011

AGOSTO


Agosto parece ser o mês mais longo do ano. Tem trinta e um dias e nenhum feriado, enquanto o resto do tempo passa depressa, agosto parece que se arrasta. Como se não bastasse tem a má fama de ser o “mês do desgosto”. Dois importantes fatos da História do Brasil republicano endossam essa ideia: o suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e a renúncia de Jânio Quadros em 1961. Nessa postagem quero me ater ao primeiro evento.
Getúlio Vargas havia sido presidente do Brasil entre 1930 e 1945, governando sob uma ditadura que se tornou mais ferrenha a partir de 1937. Em 1950 se elegeu presidente pelo voto popular, numa coalizão que unia inclusive setores da oposição. O PTB, seu partido, teve inclusive apoio de parte da UDN, seus maiores rivais, que agora pretendiam cargos nos ministérios.
Getúlio Vargas
Nesse segundo governo, seguiu uma linha nacionalista, buscando um sistema econômico independente do capital estrangeiro, definindo o Estado brasileiro como regulador e investidor nas principais áreas da economia. Ainda adotava uma política conhecida como “populista”. 
Apesar de geralmente assumir um caráter pejorativo, que liga o político a práticas demagogas, o populismo nem sempre pode ser considerado assim. Aqui não tenho o espaço necessário para explicá-lo, mas posso dar uma visão geral e breve. É antes um acordo entre o líder da nação e as classes populares. Ou seja, o governo dá para os trabalhadores aquelas necessidades e demandas, como por exemplo, férias remuneradas, salário mínimo, licença para gestantes, décimo terceiro, e estas o apóiam e dão seu voto. Não é uma simples manipulação, mas uma certa “troca de favores”.
Em meados de 1953, Vargas mudou seu ministério, retirando os membros da UDN e colocando homens como Jango e Osvaldo Aranha. A partir daí, o presidente começou a ser alvo de ataques frequentes e ferrenhos principalmente do deputado Carlos Lacerda. Dono do jornal Tribuna de Imprensa, deu início a uma campanha pela renúncia de Getúlio.
Nos ciclos mais íntimos do presidente surgia a noção que seria necessária remover Lacerda da cena política. O chefe da guarda pessoal de Getúlio, Gregório Fortunato, teve a ideia então de “apagar” Lacerda. Ele incumbiu Climério de Almeida e João Alcino de espionar Lacerda.
Carlos Lacerda
Na noite de 4 para 5 agosto de 1954, ambos estavam a sua espera, na frente da sua casa, na rua Toneleros no Rio de Janeiro, então a capital federal. Lacerda chegou acompanhado do seu filho e do major da aeronáutica Rubens Vaz, que notou uma movimentação estranha e foi ver o que era. Viu Alcino e foi atrás dele. Acabou sendo alvejado por um tiro e morreu. Lacerda foi ferido no pé. 
A investigação do crime começou na Polícia Civil, mas logo passou para a Aeronáutica, com a instalação de um Inquérito Policial Militar na base aérea do Galeão. A pressão pela saída do Vargas do poder então, só aumentou. A Tribuna de Imprensa passou a bater cada vez mais no presidente. Se iniciava uma violenta campanha pela renúncia de Getúlio, movida principalmente por setores conservadores da classe média.
Em 23 de agosto, Vargas percebeu que as forças armadas também estavam contra ele. Generais do Exército também estavam exigindo a sua renúncia. Na madrugada de 24 de agosto, convocou uma reunião com seus ministros e familiares para analisar a situação, na qual a maioria dos ministros se mostrou favorável a renúncia.
Após a reunião, Vargas teria se isolado em seu quarto e as 8 e 30, deu um tiro no próprio peito, caindo morto na cama. Na mesa estava a famosa carta-testamento. O suicídio, além de ter sido um ato desesperado, foi o seu último ato político.
O povo saiu nas ruas depredando tudo que remetesse a oposição a Vargas, como as sedes dos jornais Tribuna de Imprensa e O Globo, no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, a multidão furiosa quebrou a sede dos Diários Associados e da UDN.
Com o suicídio, Vargas impediu que os setores conservadores da UDN e do Exército tomassem o poder naquele momento. Não havia clima junto à população revoltada pela perda do presidente para isso. 
Capa do jornal "Última Hora", favorável à Getúlio, quando da sua morte
Um livro interessante é Agosto de Rubem Fonseca. Intercalando o assassinato de Vaz com o de um empresário, o autor retrata esses momentos da História nacional pela ótica de Mattos, o policial que investigava o assassinato do empresário, misturando História e ficção. O livro foi adaptado para televisão em minissérie homônima da Rede Globo, com José Mayer e Vera Fischer como protagonistas.

Bibliografia:
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e o sorriso. São Paulo, Companhia das Letras, 2006.
FONSECA, Rubem. Agosto. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

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